ARTICULISTAS

De cobras e vacinas

Luiz Cláudio dos Reis Campos
lucrc@terra.com.br
Publicado em 28/10/2020 às 18:55Atualizado em 18/12/2022 às 10:38
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Dos idos de minha existência juvenil veio-me, espontaneamente e gratificantemente, a recordação do que aprendi sobre soro antiofídico. Saber que ele era feito com o próprio veneno da serpente me deixava encabulado e ao mesmo tempo fascinado de como era possível, com o próprio veneno, tratar de uma picada peçonhenta, por vez mortal. Ah, e o ensinamento completava a importante observação de que era o Instituto Butantã que produzia o soro e, portanto, um lugar de cobras. Ficava imaginando aquele tanto de cobras e seus venenos extraídos e esguichados nos recipientes adequados para, posteriormente, se transformarem no soro redentor e milagroso. Cresci com enorme respeito e admiração pelo Butantã e permaneço com a mesma referência de antigamente. O Butantã é literalmente e figuradamente um local de cobras. Uma instituição secular que presta relevantes e inestimáveis serviços à população, não só paulista, mas brasileira. Esse nome, Butantã, me é familiar desde sempre por ter estudado, claro, quando jovem, sobre animais peçonhentos e não peçonhentos descritos pela disciplina de Biologia, comum a todos que estudaram e estudam. Acresce, a esse fato, minha convivência ainda bem novo com um irmão um pouco mais velho, à época estudante de Medicina com vocação comprovada por pesquisa científica. O Butantã era, então, um santuário de proficiência de notório saber e indiscutível qualidade. O que mudou de lá para cá? Nada. Continua com sua missão mais que secular de nos abastecer de soros e vacinas que salvam milhões de vidas. O que será mais nobre? Nada. O Butantã sobrevive e sobreviverá em todas as épocas, sejam elas de prestígio à ciência ou de desprestígio e de trevas. Sua luz própria permite atravessar o obscurantismo com o antídoto precioso e preciso que é o da pesquisa incessante e das descobertas que nos trazem mais proteção e saúde. O melhor soro contra a ignorância é ignorá-la na hora certa e combatê-la no momento adequado. Creio estarmos no momento do combate para enfrentarmos com convicção os arautos da desinformação e do xenofobismo que formam o binômio do atraso e do preconceito, nefasto e indigesto, que infelizmente ainda encontra estalagem em nossa terra. O Butantã, assim como tantas outras instituições brasileiras de referência, é um importante reduto de resistência. É, sem dúvida, uma verdade chinesa, cujo ditado popular, milenar, se traduz por verdade absoluta. E é com a verdade chinesa que vamos reverenciar o Butantã, cheio de cobras que nos trarão a vacina libertadora da pandemia e quiçá do pandemônio. Que venha a VACHINA, e viva o Butantã.

Luiz Cláudio dos Reis Campos  

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