ARTICULISTAS

É preciso AlfaBethanizar o Brasil

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 02/10/2023 às 18:42
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Suprema voz, supremo encanto, supremo canto, supremo pranto. São de momentos como o proporcionado por Bethânia, na posse do ministro Barroso, que as vestes do Brasil revelam suas tonalidades e exalam o cheiro da dor e o aroma da esperança.

Alfabethanizar-se é aprender a ler o Brasil pelo significado real de sua essência. É o idioma que traduz a síntese sincrética da artista baiana e a síntese do povo brasileiro de Santo Amaro a Xerem, de Rosa gaúcha a Carmem de Minas que é das Geraes. No dialeto alfabhetânico, Guimarães romperia as fronteiras de Minas para emprestar à pátria e dizer: como Minas, o Brasil são muitos.

Não se deve dizer que Bethânia roubou a cena na posse de Barroso, mesmo porque ela ensina em um de seus belos álbuns que “A Cena Muda”. E muda mesmo, como mudou desde o lançamento do espetáculo em 1974. E já não é muda como muitas vezes precisou de ser a fala oculta da cantora: “Se me perguntares o que é minha pátria, direi: não sei. De fato, não sei como, por que e quando a minha pátria. Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água que elaboram e liquefazem a minha mágoa em longas lágrimas amargas. Vontade de beijar os olhos da minha pátria. De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos”.

No disco “A Cena Muda”, lá estavam, entre as 34 obras, “A sonhar eu venci Mundos” (Fernando Pessoa), “Roda Viva” (Chico Buarque), “Eu vim do Sertão” (Tom Zé), “Sinal Fechado” (Paulinho da Viola), “Sonho Impossível” (versão Ruy Guerra/Chico Buarque). Colho da pequena amostra de seu vastíssimo repertório de interpretações magistrais: “A sonhar eu venci Mundos. Minha vida um sonho foi. Cerra teus olhos profundos para a verdade que dói. A ilusão é mãe da vida, Fui doido e tido por Deus. Só a loucura incompreendida, vai avante para os céus”. “Voar num limite improvável, tocar o inacessível chão, è minha lei é minha questão, virar esse mundo, cravar esse chão”...

O dia que Barroso foi às lágrimas, em sua posse, banhou-se na mais bela fonte de um Brasil alfabethanizado com a inseparável dupla: arte e democracia, uma não existe sem a outra.

Luiz Cláudio dos Reis Campos

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