Afirmar-se é legítimo e pertinente. É necessário, porém, zelar-se para não banalizar sua afirmação. O conhecimento é indispensável para que a atitude seja coerente com a causa. Querer ser é um bom começo. Mas às vezes o estereótipo fala mais alto e a personagem vira refém de um papel mal representado. É quando o banal sobrepõe-se à sensatez. A autonomia afirmativa é uma constante atividade de autenticidade, senso crítico e coerência. O escracho e a impolidez são manifestações que evidenciam a incompreensão, despreparo e desconhecimento do objetivo e foco da postura afirmativa que se deseja atingir. Tudo que é banal é superficial. Destituído de profundidade, supérfluo, deficiente de informação. Tudo fica mais raso quando se afirma conhecer tudo sobre tudo que não se tem a menor ideia. Esse é o enorme risco e o pato que se paga ao se revelar incompatível entre ser e estar, vivendo apenas o roteiro de encenação. Esse é o caminho da ridicularizarão. Portanto, ao afirmar-se, é importante, anteriormente, dimensionar as limitações e o alcance do que se pretende. Nada é apenas hedônico, tudo requer consistência, principalmente, argumentativa. Ao assumir-se com convicção, sem influências de ocasião, é hora de manifestar sua afirmação sem o menor risco de banalizar-se. Mateus, novo testament “muitos são os chamados, poucos os escolhidos”. Afirmação é coerência intransigente. Antes de devolver a palavra já assegurada ao próximo inscrito que a exercitará em pleno desfrute da soberania do verbo, reitero ao mesmo que a utilize com a preciosidade inerente ao direito que adquirimos de manifestar nossas convicções. Ela é de valor inestimável, libertá-la foi árduo. A essência da afirmação é a não vulgarização da palavra e das atitudes correspondentes ao seu significado. Não basta apenas dizer, a fala deve estar acompanhada de credibilidade e de posicionamento que darão o respaldo necessário para quem postula e se coloca em posição de exposição pública no que acredita, preservando os atributos que conferem idoneidade ao que se prega. Em tempos virtuais, instantâneos, suspeitos, a afirmação precisa ser real, concreta, indissimulável, sincera e espontânea. A conveniência é o maldito oportunismo que abomino, descarte-a. Afirme-se em companhia da sua verdade. Ela autenticará sua opção e mostrará quem você é. Encare o desafio. Pode ser penoso e dolorido, mas é honesto. Devolvo a palavra.