O ano, se não me engano, era 1973. Estávamos cursando no Diocesano a sétima série do primeiro Grau, que deve corresponder hoje ao oitavo ano. Mas isto é o de menos, até porque os conteúdos, em boa parte, não são os mesmos. Trinta e nove anos representam uma diferença enorme, principalmente com a escalada de conhecimento e inovação tecnológica que vivenciamos em frenética velocidade.
Tínhamos excelentes aulas com professores abnegados, exigentes e embasados. Alguns eram irmãos maristas. O colégio exercia grande atração e para a maioria era um local de estudar e também compartilhar vivência, lazer, esporte. Lembro-me das peladas e também de torneios que participávamos nos finais de semana, principalmente aos sábados. Era uma rotina salutar. Por um bom tempo integrei, com outros amigos do colégio, um time de futebol de salão que denominamos de Atlantic, nome inspirado em uma rede de postos de gasolina, cujo slogan era: “Atlantic, quem não é o maior tem que ser o melhor”. E este slogan nos cabia visto sermos novos e, sem falsa modéstia, bons de bola, vencendo muitas vezes estudantes já um pouco mais avançados. Creio, sem medo de errar, que marcamos uma época, não é mesmo Guiba, Osorinho, Marcelo Gaia (in memoriam), Gainha...?
No dia a dia das aulas o Atlantic se dispersava nas turmas e séries para depois se reencontrar no recreio. Já em aula tínhamos que mudar o foco e buscar concentração. Numa delas, de ciência, quando pus atenção de fato na matéria viajei no tempo e no espaço. O professor falava sobre o átomo, suas peculiaridades, funções e propriedades. Era fantástico. Estava ouvindo algo relacionado à formação do Universo. Quanto mais a aula avançava, mais curioso e impressionado eu ficava. Não me recordo quantas aulas foram necessárias para ver todo o capítulo, mas marcou-me especialmente a que tratava da Teoria Atômica de Dalton, professor inglês, que propôs em 1808 sua explicação da natureza da matéria em postulados. Não me lembro de todos, mas de um nunca esqueci: os átomos são permanentes e indivisíveis... No entanto, para quebrar o encanto, o professor argumentou que alguns postulados de Dalton haviam sido contestados posteriormente e derrubados. Este que me lembro era um deles.
Todo capítulo que estudávamos, ao final, era motivo de prova, sabatina ou dissertação. Quanto à teoria atômica pediu-nos que fizéssemos uma crítica sobre os postulados de Dalton. Fiz com a desenvoltura de quem dominava amplamente o assunto, listei postulado por postulado e os comentários pertinentes para cada um. Entreguei o texto orgulhoso do meu desempenho. Estava certo, tirei nota máxima. O professor fez questão de mencionar a única resposta que um colega escreveu na prova: “quem sou eu para criticar Dalton”, lógico que sua nota foi péssima, mas confesso, no fundo, gostei mais de sua resposta do que do meu tratado. Talvez porque descobrira que o Atlantic, assim como o átomo, não seria permanente e indivisível...
(*) Presidente do PSDB - Uberaba
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