O endeusamento é um desserviço ao endeusado, porque geralmente ele acredita
O endeusamento é um desserviço ao endeusado, porque geralmente ele acredita na sua perspectiva divina e passa a agir de maneira impune e à margem da regulação do juízo humano. Ao pretenso e alçado Deus lhe é conferido o arbítrio monocrático, mas como é apenas sensação e não divindade real, em algum momento, novamente se mortaliza e se apresenta realmente como simples mortal, sujeito a raios e trovoadas. Acima do mal está a lei e não os seus sentenciadores.
Uma coisa é construir a própria história, outra coisa é ser resultante da história dos outros. Da primeira surge um líder, da segunda aparece uma ocasião e com ela sua fragilidade. Por trás do homem santo e do herói incontestável, geralmente há um bastidor de vilania.
“[…] é permitido a todo indivíduo que tenha consciência da verdade regularizar sua vida como bem entender, de acordo com os novos princípios. Neste sentido, tudo é permitido […] Como Deus e a imortalidade não existem, é permitido ao homem novo tornar-se um homem-deus, seja ele o único no mundo a viver assim”. Dostoievski.
Na verdade, não é a falta de Deus ou Deus em falta que se permite atribuir a si a deidade como que ungido da verdade que liberta e faz justiça. Mesmo porque, ao que se sabe, estamos em um ambiente monoteísta. O perigo já está posto e já se corre. A história, o tempo e as crenças estão acima e além do método e do momento. O momento é passageiro, a história é permanente. E o método é instrumento de atuação que se notabiliza pela retidão ou conveniência. A transgressão não pode ser artifício e ardil para qualquer causa onde há a necessidade de se fazer justiça. A anuência a essa metodologia implica em ignorar a história em favor do momento. Há leis onde se querem reis. Notabilíssimos são geralmente os que não se fazem notar e não se inflam por uma atmosfera carregada de ares que são tocados para uma direção apenas.
"Pode contar seus segredos ao vento, mas, depois, não vá culpá-lo por soprar tudo às árvores." (Khalil Gibran)
O que é legal não vive ao sabor dos ventos, sejam eles bonanças ou tornados. O próprio Ulysses, o senhor Constituinte, zelador da Carta Magna, injustamente experimentou o gosto amargo do vento. Foi morar na escuridão... do mar. Tudo que é humano é efêmero, o que não é efêmero são atitudes.
Tudo se encerra com um ponto, se deixar caber uma vírgula, deixou dúvida.
"Eu vejo, eu ouço... eu investigo, eu julgo...