ARTICULISTAS

“Homo Dactilus”

Luiz Cláudio dos Reis Campos
lucrc@terra.com.br
Publicado em 25/11/2014 às 11:39Atualizado em 17/12/2022 às 02:32
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 “Homo Dactilus”

Sem entrar na discussão de qual teoria está certa, o evolucionismo ou o criacionismo, vou me ater na da evolução. Darwin e outros naturalistas chamavam de órgãos vestigiais aqueles que em alguma etapa da evolução humana e animal exerciam uma função nos organismos e que deixaram de exercê-la. Darwin fez a seguinte analogia: “os órgãos vestigiais podem ser comparados com as letras mortas conservadas na grafia de algumas palavras e que não são pronunciadas na fala, servindo apenas como uma chave para o descobrimento de sua origem”.

Temos exemplos clássicos, como é o caso das asas do avestruz, muito pequenas para voar. O pinguim que também possui asas, mas não tem a finalidade do voo, desenvolveu a habilidade do nado. Ambos descenderam de ancestrais que usavam as asas para voar. O cóccix é um pequeno osso que termina a coluna vertebral na parte inferior, sendo um vestígio da cauda dos ancestrais do homem, o vestígio de um rabo.

Os dentes do siso são os terceiros molares vestigiais que os humanos utilizavam para mastigar folhas, triturando-as. Outros que também se enquadram nesta classificação são os apêndices, musculaturas das orelhas, pelos corporais. Atualmente, ainda nascemos com o cóccix, com os sisos, apêndice. São vestígios testemunhos a assegurar que já fomos diferentes fisicamente do que somos, seja no tamanho, na compleição óssea, assim como os sentidos, audição, tato, visão, paladar, olfato, além do desenvolvimento da fala que não é um sentido, mas deu todo o sentido para sairmos da comunicação rudimentar e passarmos a dialogar e nos fazer entender.

Deixo o passado ancestral para mirar o futuro e faço a seguinte indagaçã como seremos daqui a milhares ou milhões de anos, em outra era, uma “oica” qualquer? Hoje, que não está muito longe de cem anos para a ciência, falamos muito menos, escutamos muito menos, beijamos muito menos, abraçamos muito menos, sorrimos muito menos.

Tudo que fazemos menos, acreditamos compensar com o que fazemos mais: digitamos teclados onde quer que estejamos. Temos a sensação ilusória de que estamos fazendo praticamente tudo que fazíamos antes com os órgãos pertinentes, substituindo-os pela comodidade de um simples enter. Como Darwin projetaria este homo? Seria um homo com ouvidos menos aguçados, língua, lábios e dentes adaptados a pouca fala.

O que ele consideraria vestigial, desnecessário? E nós, como poderíamos nos projetar fisicamente melhor adaptados para a vida de tecladistas? Lá na frente, milênios e milênios, poderemos ser considerados a passagem do homo sapiens para o “homo dactilus” e então saberão o saldo desta “evolução”. Tomara que prospere e reste o que há de melhor em nós, por exemplo, simples carícias e gestos afáveis com mãos e dedos.

Luiz Cláudio dos Reis Campos-engenheiro-lucrc@terra.com.br

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