Fui à procura da origem das palavras indígena e indigente. Ambas derivam do latim. Indígena vem de indigena,ae “natural do lugar em que vive, gerado dentro da terra que lhe é própria” Indigente vem de indigens, entis “que tem falta de, necessitado”.
Duas palavras tão semelhantes foneticamente e antagônicas em suas semânticas. É de tal forma irônico à medida em que o indígena gerado dentro da terra que lhe é própria não é reconhecido como tal e lhe é aviltada essa condição. Passa a “ ter falta de, necessitado”, ou seja, é um indígena indigente. Na verdade, é um ser ingentemente não gente.
O etnônimo Yanomami produzido por antropólogos significa “seres humanos”. E agora? Agora é “indigenocídio”, neologismo que ouso criar. Fazer morrer por “indigenocídio” , o extermínio do indígena ser humano indigente, fruto do garimpo ilegal , da negação deliberada do governo anterior a incontáveis denúncias, apelos, reivindicações, solicitações reproduzidas pela mídia.
Também fui à cata da origem do nome Damares. Trata-se de variação do nome grego Dâmaris. Significa “bezerra, “novilha” ou “esposa”. Todos os significados carregam a simbologia da vaca que remetem à fertilidade, amamentação. Mais paradoxos .Morte e fertilidade, amamentação e desnutrição. Vacas magras aos “indesejáveis" indígenas indigentes yanomamis.
“ A cavalaria brasileira foi muito incompetente.Competente,sim,foi a cavalaria norte-americana que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema em seu país" JB.
Se esta fala não for suficiente para se compreender o que ela enseja é porque de fato pouco se considerou que intenção e gesto podiam se encontrar.
A tragédia Yanomami é o resultado deste anunciado encontro .O “indigenocídio” que de intenção virou massacre.
Cabe ao atual governo agir urgentemente, como de fato está agindo, para atenuar esta calamidade e também tratar de conter todas as ações predatórias ilegais causadoras das iniquidades que estão sendo reveladas, punindo os responsáveis com o rigor da lei.
O tempo de hoje é o de resgatar Darcy Ribeiro e sua devoção indigenista.
O tempo de Leo Índio e sua “tribo" se foi pra nunca mais.
LUIZ CLAUDIO DOS REIS CAMPOS