Não há nada mais antigo em política do que a leviandade oportunista. Prática condenável por aqueles que hoje pregam a tal nova política. O governador Zema veio a público emitir sua opinião a respeito dos ataques à DEMOCRACIA com a vandalização e depredação das sedes dos Três Poderes da República, no dia 8 de janeiro. Condenou os atos antidemocráticos, o que é louvável, entretanto adicionou, sem provas, a possibilidade de o atual Governo Federal do PT ter feito vista grossa, concorrendo para que tudo transcorresse como ocorreu para se tornar vítima.
Tal manifestação, além de oportunista, é leviana, tendo em vista a clara intenção de Sua Excelência se inserir no debate nacional buscando notoriedade com a perspectiva de se incluir na partilha do possível espólio político de Bolsonaro, oportunista porque, provavelmente, nem mesmo acredita no que diz e leviana porque aponta sem provas e sem nenhuma sustentação compatível com a clareza solar que a cobertura das mídias permitiu constatar.
Nada mais óbvio e nada mais antigo do que esse tipo de posicionamento do Governador. Trata-se de manjada estratégia de aparição, buscando holofote e polêmica para iniciar 2026 já em 2023, o que é lamentável partindo do Governador de Minas Gerais.
O resultado prático dessa fala é a repercussão nas redes de adeptos ao golpe, apoiando e referendando o ato, desviando a responsabilidade dos que de fato praticaram o crime, para alimentar a falsa impressão de conspiração premeditada do atual governo. Isso é de tamanha insanidade e inoportuna criatividade.
Um desserviço por estimular, ao contrário de atenuar, essa ilegal atitude golpista de setores minoritários de uma ala política. Uma manifestação de um governador de MG tem alcance nacional e, também, dependendo do assunto, internacional, que é o caso em questão.
“Os fins justificam os meios”, frase muitas vezes atribuída a Maquiavel, na verdade, foi dita por Ovídio, poeta romano, que quis dizer: os governantes devem estar acima da ética dominante para manter ou aumentar seu poder, e, aqui, acrescento, para também alcançar o poder. E assim Zema se portou, seguindo à risca a máxima de Ovídio. Perdeu a oportunidade de perder a oportunidade.
Será mais importante do que lamentar e condenar as destruições das “Mulatas” de Di Cavalcanti, do “Flautista”, de Bruno Giorgi, da “Bandeira do Brasil” de Eduardo Jorge, de “Galhos e Sombras” de Frans Krajcberg, do “Relógio de Balthazar Martinot”, presente da Corte Francesa a Dom João 6º, de “A Justiça” de Alfredo Ceschiatti, do “Muro Escultórico” de Athos Bulcão, da “Bailarina” de Victor Brecheret e de “Maria, Maria” de Sônia Ebling se projetar de forma oportunista diante de uma tragédia que mutilou nossa Cultura e tentou aniquilar a Democracia? Será que é mais valioso lançar uma leviandade do que se solidarizar e se indignar com tudo que até então foi lesivo e pernicioso ao nosso estado de direito e à nossa democracia?
“Em Minas Gerais, a política é como um crochê: não se pode dar ponto errado, sob pena de começar tudo de novo.” Itamar Franco.
“Minas são muitas”, nenhuma é leviana.
Luiz Cláudio dos Reis Campos