Ele não acreditava em assombração, porém, era um caça-fantasmas que queria provar para si mesmo a existência do sobrenatural. Por muito tempo utilizou-se de sofisticados recursos de captação de imagem, a fim de flagrar um possível evento que fizesse sentido ao que procurava. Viajou para locais notadamente falados por aparições historicamente famosas. Começou pela Transilvânia, Romênia, visitando o Castelo do Drácula. Percorreu, com expectativa aguçada, seu interior, suas catacumbas e jardins. Sabia que muitos turistas ficavam aterrorizados por ouvirem gemidos e gritos das almas vitimadas pela fúria do Conde Vlad. Saiu de lá como entrou. Sem nenhuma impressão que o impressionasse a ponto de perceber a presença de almas penadas. O castelo chamou-lhe atenção pelo que representa na obra clássica de Bram Stoker, nada mais. Passou por diversos países em lugares com relatos de vozes, sussurros, choros, lamúrias de pessoas que lá viveram e já morreram. Não testemunhou algo que ultrapassasse a curiosidade e contemplação de um simples turista. Foi às catacumbas de Paris onde se encontram, entre tantos milhares, os restos mortais dos combatentes da Revolução Francesa. Lá sentiu certo arrepio, contudo percebeu que era fruto de uma incontida emoção de estar onde há tanta história em um túnel do tempo de despojos humanos. Na entrada lê-se Arrete: c´est ici l´empire de la mort (Pare! Começa aqui o império da morte). Chegou também em Auschwitz, na Polônia, que contabiliza o extermínio de três milhões de pessoas vitimadas pelo horror do nazismo. Da mesma forma, seus calafrios não estavam relacionados a algo imaterial, mas, sim, por tudo que simboliza crueldade e vergonha da humanidade. Ponderou que os fantasmas não são os mortos que ressurgem, mesmo porque não conseguira evidência alguma. Fantasmagóricos são atos praticados por vivos em carne e osso, esses, sim, aterrorizantes. Percebeu que almas mortas devem permanecer em sono profundo, para não serem usadas indevidamente. Deduziu que todo ato em vida é desalmado, pode sê-lo bom ou mau. Alma não é a parte que pratica, é a que sente. O nosso caçador de fantasmas encontrou muitas respostas, nem todas para suas inquietações, dúvidas e crenças. Não encontrou ghost algum dos regularmente descritos. Lembrando-se da célebre frase de Thomas Hobbes: “O homem é o lobo do homem”. Também o homem é o fantasma do homem, concluiu, aliviado e crédulo.