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O Horóscopo de todos nós

Ela me disse que acredita em Horóscopo e passou a descrever

Luiz Cláudio dos Reis Campos
lucrc@terra.com.br
Publicado em 21/06/2014 às 19:53Atualizado em 19/12/2022 às 07:12
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Ela me disse que acredita em Horóscopo e passou a descrever características marcantes em pessoas do meu signo. Ouvi atentamente, admirado com o conhecimento que possui a respeito do assunto. Fez algumas associações com ascendentes para aprofundar sua sustentação zodiacal com argumentos que fundamentavam meu enquadramento no padrão dos meus semelhantes nascidos na mesma época, a cada ano. Desfilou um rosário de modos, comportamentos e reações diante do amor, da amizade, do sexo, trabalho, dinheiro. Enfim, dissecou-me corpo e alma, como se não mais houvesse nenhum mistério, surpresa ou mesmo segredo que fosse capaz de sustentar diante dela. Tentei contestar um traço ali, outro cá, em que não acredito que me encaixo, mas em vão. Sobrou-me a incompetência de não conhecer a mim mesmo, porque ninguém na verdade se conhece a ponto de poder discordar do que a astrologia revela de nós. Passou-me esta sensação ao rechaçar qualquer contestação que fazia. Fui me recolhendo e me resignando a não mais contrariar tamanha fonte de conhecimento do ser humano que invariavelmente se acomoda em uma das doze possibilidades que o zodíaco oferece. No passo seguinte, passou a estabelecer comparações entre o meu signo e outros que se antagonizam e, também, dos que se afinam. Comecei a imaginar situações do meu convívio com pessoas dos signos que citava. Concordei em parte e discordei também, mas intimamente. Não retruquei, como também não anuí com suas afirmações. Apenas lhe disse que havia despertado meu interesse e que respeitava sua crença inabalável. Despedi-me, comprometendo-me a me informar com leitura e colocar um olhar mais atento na parte dos jornais e revistas que trazem o Horóscopo. Veio-me então, como brotando em minha mente, o som de voz e a maneira e o sotaque no falar de uma expressão marcante do rádio brasileiro nos idos dos anos setenta, Omar Cardoso, o papa da astrologia. Possuía a magia de fazer com que milhões de brasileiros e, principalmente, brasileiras conduzissem seus dias baseados no que ele dizia. E Omar começava dizendo assim: Áries para os nascidos entre 21 de março e 20 de abril. A partir dali, desfilava signo por signo em centenas de emissoras de rádio espalhadas pelo Brasil, e hoje existe o Instituto Omar Cardoso. Pela internet acessei o Instituto e vi no horóscopo do dia o que reservava para mim: A posição de Vênus favorecerá a vida amorosa. Sentimentos fortes e sintonia afetiva com a pessoa amada permitirão um perfeito entendimento com a possibilidade de surgirem novos planos para o futuro. Gostei do que li e pude compreender um pouco mais sobre a convicção dos que se pautam pelo zodíaco. Há sempre uma esperança e algo promissor esperando por você, lógico, sem desprezar algum percalço, mas é sempre um enredo de final feliz. Afinal, o que se busca muitas vezes é bem diferente do que se encontra. Uma coisa é certa para os nascidos entre 01 de janeiro e 31 de dezembr pouco sobre nós sabemos e muito sobre nós duvidamos. Enfim, não somos quem pensamos que somos, nem somos o que pensamos que as pessoas pensam que somos e nem somos o que as pessoas pensam que somos. Apenas somos, conjugado no presente.

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