“Mesmo que o tempo e a distância digam não. Mesmo esquecendo a canção. O que importa é ouvir a voz que vem do coração”. Experimentei com sabor inenarrável o que o verso desta bela letra ensina. No quintal mais lindo que pude visitar, lá estava o presente conspirando com o passado, energizando lembranças tão recônditas que a imposição dos fatos marcou quase que uma ausência em minha vida. Como que num passe de mágica, tudo se fez novamente, se reencontrou, ressurgiu, encantou. Seiva que alimenta a alma carente do esplendor materno tragado há anos de minha existência. E estava lá, tudo conexo como que intencional, porém, ao contrário, mais que espontâneo, natural porque vem carregado de inspiração da trajetória, dos laços e da afirmação espontânea e convicta de sua história. E estava lá, tudo como dantes eu nem pudera imaginar. E é na precisão do detalhe, na singeleza do gesto, no aconchego de um sorriso fraterno, que a gente se reconhece incluído e pertencente. Isto é grandioso porque nutre e realça o sentimento que existe e possibilita vivenciá-lo na prática. Saber que ainda sou o que lá atrás ficou me foi permitido ao mergulhar no tempo que cada detalhe do quintal da Lúcia me proporcionou. Senti o mesmo frescor das folhas úmidas em aclimatizada alameda de mangueiras que formavam o tapete verdejante da caminhada do portão ao casarão da chácara em Uberaba, a Vila dos Eucaliptos, território familiar que é ponto de referência, para não dizer de partida, de gerações e gerações. E, no quintal da Lúcia, lá estávamos como testemunhos vivos a reafirmar e perpetuar o que nos identifica, nos une e nos assemelha. Dia inesquecível o aniversário da querida prima Lúcia, cujo presente fomos nós que recebemos, lado a lado com a Moab querida, tão parecida com mamãe, que me faz senti-la por perto. Foi assim que aconteceu no mais belo quintal que frequentei. Lá me senti mais que um Rei, me senti Reis.
Luiz Cláudio dos Reis Campos