ARTICULISTAS

Pegajoso demais

Luiz Cláudio dos Reis Campos
lucrc@terra.com.br
Publicado em 27/03/2014 às 10:36Atualizado em 19/12/2022 às 08:27
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Estou sentindo sua falta. Você me persegue. Corro de você, não adianta. Está sempre na minha cola. Tento pular fora, você puxa pelo meu braço e disfarça pra ninguém perceber. Vou pra um lado e pra outro e você não desgruda, feito carrapato. Caramba, de novo, sinto mais sua falta ainda. Desta vez foi demais. Consegui desvencilhar e você caiu de maduro. Apelou e me xingou no pé do ouvido. Disse que da próxima, se me atrevesse, eu ia perder o rumo de casa. E ia me mostrar o que é mesmo sentir sua falta. Dei de ombros e fingi não preocupar. Apenas respondi, você sabe o que faz e eu também. Cada um cuida de si. Saí de perto, dei-lhe as costas e fugi do seu encalço. Pequena trégua e você novamente. Até parece que não age por conta própria, dá de entender que o mandaram grudar em mim. Será por conta da bola que não dou pra quem não está do meu lado? Você fica alucinado querendo minha bola. Desde que nos conhecemos sabe que não dou bola pra você.

O tempo passa e a caça continua. Quero contar o tempo que não ficou junto a mim, não consigo, talvez quinze minutos e não senti sua falta. Pela falta que você me faz reajo me distanciando. Sempre quero iludi-lo e deixá-lo na poeira, de joelhos. Ah, quando isto acontece não sinto sua falta. Você escorregou, pensou que eu ia para um lado e eu estava do outro, dançou, sem saber que eu queria mesmo convidá-lo pra dançar. Em seguida volto a sentir sua falta. Veio raivoso e como que tripudiado resolveu apelar. Fez jogo baixo, quase perdeu a cabeça. Nem dei bola, mas senti sua falta mais forte do que nunca.

Foi difícil levantar sem que alguém me desse a mão. Consegui erguer-me e mais uma vez te olhei com desdém e ironia. Um olhar de enfrentamento para inibi-lo e esconder o jogo. Deixar a dúvida prevalecer e aplicar a estratégia adequada. Hoje não vou esquecer. Jogo duro, não quero te ver pela frente, sei que vou sentir sua falta. Mas vou cobrar sua falta, gritar, pular e comemorar. Com sua falta, venci. Marquei o rumo, mirei e minha bola chegou onde eu queria, nem você nem ninguém interceptou. Sua falta me deu a vitória. Um gol de placa. Vai a dica: larga do meu pé sem me deixar livre, assim você não faz falta, joga limpo e eu não tenho como cobrar. Até a próxima, sem falta, só na boa e na bola. Um abraço de artilheiro...

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