Gosto muito de mágica, das elementares às mais sofisticadas. Do baralho, do coelho da cartola, da levitação, da mulher serrada, sempre bem modelada, que geralmente é a partner. Admiro a capacidade de entreter iludindo. A magia do ilusionismo é arte requintada que requer devoção e determinação. O truque é o truque. Não pode ser desvendado. É o segredo que seduz e leva ao encantamento, admiração e prazer Quando se descobre o truque, perde-se o fascínio, o glamour. A mágica imagem deixa de ser miragem e perde o encanto. O segredo é fundamental e inquebrantável. Tudo é mágico enquanto não se descobre o que está à vista, porém tão distante dos olhos mesmo que atentos. O mágico de tudo isso não é o mágico e, sim, quem se permite viajar na fantasia proposta. Isso é fantástico e o fantástico é mágico porque só existe na imaginação. Hoje pouco ou quase nada se ouve falar de mágicos e mágica. Parece que é mais uma das artes em desuso. Perdeu-se o encantamento, a ingenuidade. Porque enquanto ingênuos saboreamos os melhores segredos, as ilusões e os medos. Algo ingênuo precisa sobreviver para a magia existir. Imagine alguém dizer: quem me matou está nessa sala. Significa que, presumivelmente, está-se diante de uma revelação assustadora e inimaginável. O morto elucidando seu assassinato. E ele apenas diz isso e não aponta. Deixa a dúvida para a plateia presente. Não revela, porque não pode provar. Tem certeza, mas os argumentos são inconsistentes. Acusa todos. Estamos diante de uma façanha ilusionista. Fazer crer na confidência pós-vida. O imaginário é mágico, sem ele o mágico perde o ofício num passe de mágica. O inesperado e a surpresa causam o espanto, a perplexidade. Quando a mágica é revelada vem a sensação da ilusão perdida, do segredo rompido e frustra a expectativa do mistério. Algo como quando se descobre que Papai Noel não existe, talvez o primeiro choque de realidade enfrentado por muitos de gerações onde ele era tão aguardado em dezembro. Do mambembe aos palcos elegantes, os mágicos devem atuar para assegurar a permanência da talvez mais antiga manifestação humana de entreter e dar vazão à imaginação. É preciso às vezes tirarmos os pés do chão para que possamos dar asas à alma. E o segredo é fórmula mágica que não se desvenda. O pulo do gato.
(*) engenheiro-lucrc@terra.com.br