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Quando ela passava

Passava como se pretendesse ser observada detalhadamente. Sabia de seus predicativos...

Luiz Cláudio dos Reis Campos
lucrc@terra.com.br
Publicado em 24/11/2015 às 19:38Atualizado em 16/12/2022 às 21:11
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Passava como se pretendesse ser observada detalhadamente. Sabia de seus predicativos e sem constrangimento partilhava e sentia a apreciação dos olhares inebriados que fixavam em cada ponto e dobra de sua harmônica plástica. Desembaraçada, destemida, desenvolta, descontraída, desafiava a lógica, que, diante dela, tudo fazia sentido e tudo se justificava. Cada passo registrava uma intensa movimentação e inquietude de todos que observavam e se mostravam receptivos, disponíveis a integrar sua caminhada seguindo-a servilmente, aficionados e inapelavelmente rendidos àquela magistral desenvoltura. A sincronia irretocável, sintonia impecável soavam como sinfonia perfeita, seu arranjo chamava atenção pelo toque de arte indiscutível e resistia ao tempo e ao vento. Era como se rufassem o anúncio de mais uma tocata pelo renascimento do conteúdo e da forma que representam a esplêndida composição, ou seja, por fora bela viola, por dentro muito talento. Permanecia se apresentando com galhardia irreverente na medida ideal para chamar a atenção de maneira a magnetizar atração por onde circulava. Sua escalada em solo horizontal parecia elevar a todos a patamares de enaltecimento e graça, por vezes delírio de quem se excita e passa a não se conduzir com os pés no chão. Aplausos, palmas, acenos de espectadores embalados pela graça, magia, disciplina e também de um improviso de encher os olhos e sacudir a alma. Do início ao fim, seu corpo inteiro integrava de ponta a ponta o ritmo cadenciado de quem se prepara para ofertar o que tem de melhor para encantar com os diversos estilos quando se apresenta. Sabia trajar o corpo todo com a apropriada indumentária pertinente a cada exibição. Não havia quem não comentasse um detalhe ou outro, seja do corpo inteiro ou de alguma parte. Não tinha como passar imperceptível. E ela sabia e nutria aquele embevecimento, convicta de propiciar momentos de fabulosa excitação coletiva, provocando delírio de muitos. Por um bom tempo era mais do que aguardada. Comentada sempre quando encerrava o percurso, despertava o desejo de quero mais. Sabiam que haveria uma próxima e ela estaria da mesma forma pronta, preparada, disposta a mais um belo espetáculo. Com o corpo todo sintonizado, firme, vigoroso em alegoria. Ela era a tradicional, estimada, festejada e adorada Banda. E hoje veio me ocorrer a falar um pouco dela que já não há mais. Escutando a música, resolvi colocar na minha banda aqui uma lembrança da “Banda passar cantando coisas de amor”.  

(*) Engenheiro

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