Minha memória, como que em um impulso involuntário, trouxe-me uma entrevista do governador Zema, há 2 anos, a propósito da pandemia. Na ocasião, a jornalista, abrindo a entrevista, perguntou: governador, o senhor me ouve? Prontamente, ele respondeu: Ouvo muito bem.
A resposta soou um ruído estridente para muitos que viam e ouviam. Rapidamente, o “ouvo” do governador ganhou as redes sociais e virou meme. Lembro-me de um: o Ouvo e a Zema, em alusão a ovo e gema.
No dia 13 de fevereiro comemora-se o Dia Mundial do Rádio, uma data que realmente merece ser exaltada pela importância extraordinária deste veículo de comunicação. Um sobrevivente testemunho, metamórfico e resistente a tantas inovações tecnológicas e suas diversas plataformas. Aproveito para parabenizar a todos os profissionais que militam neste apaixonante instrumento perene de comunicação.
Antigamente, não muito antigamente, o rádio só podia ser ouvido; hoje, já se pode ver também, graças à internet. Dia 10 de fevereiro, três dias antes do Dia Mundial do Rádio, o governador Zema, como já é de conhecimento de muitos, em entrevista a uma rádio de Divinópolis, foi ouvido e visto sendo presenteado, ao final do programa, com um livro de Adélia Prado.
O governador não se fez de rogado e agradeceu com a protocolar resposta: “muito obrigado, muito bonito o livro. Vou fazer bom uso, com toda certeza”. E arrematou: “ela trabalha aqui?”, em alusão à autora, a mineira consagrada internacionalmente. Prêmio Jabuti de Literatura em 1978. Novamente, um ruído estridente para muitos que ouviam e viam o programa de rádio em podcast.
Adélia não trabalha na rádio, irradia poesia, saberes, viveres. Narra o cotidiano e nos amineira mais ainda para o Mundo. Sua escrita tem sotaque natural e sua letra surfa com leveza as ondas AM e FM de Coromandel a Tóquio, desejando bom dia e boa noite.
“Caibo melhor no mundo se me dou conta do que julgava impossível. Nem todo alemão conhece Mozart”, Adélia Prado. Nem todo mineiro conhece Adélia, lamentavelmente, é fato. Mas o governador não a conhecer é doído.
Estive pessoalmente – uns mais outros menos – com Tancredo, Hélio Garcia, Azeredo, Itamar, Aécio, Anastasia, Pimentel, e todos eles me passaram a impressão de que sabiam de Adélia Prado.
Quem sabe, em uma próxima eleição, sabatine-se os candidatos ao Governo de Minas Gerais e seja condição obrigatória responder com louvor a seguinte indagação: quem é Adélia Prado?
Era uma vez, em Minas Gerais, uma pergunta provável com uma previsível resposta.
– O senhor ouve rádio, governador? – Ouvo sim, todo dia.
E Adélia e o Rádio “vão reunindo, num grande abraço, corações de norte a sul”.
Luiz Cláudio dos Reis Campos