Anteontem passei um domingo diferente. Fui de carro a Romaria a convite de um amigo que partira na sexta-feira em comitiva, cavalgando. Pela estrada afora fui observando e registrando a imensa legião que se locomovia para lá. Impressionantes a força e a convicção de milhares de peregrinos, os romeiros, que se entregam em um esforço sobre-humano para, ao final da jornada de quilômetros e quilômetros, chegar ao santuário de Romaria para estar com Nossa Senhora da Abadia. Fiquei pensando que cada um e cada uma que ali se encontram têm em suas mentes e almas uma finalidade que move seu desejo de superar todas as dificuldades impostas por um trajeto longo, inóspito, de risco pela exposição na estrada, com sol, vento, dia e noite, cuja resistência física é hidratada pela fé, alimentada pela devoção. São incontáveis as diferentes motivações de cada um. Uns que vão para agradecer, outros orar, outros pagar uma promessa, mas em todos há sempre algo em comum e com certeza, pelo que pude verificar, é a esperança. Ela que unifica e é o combustível para suportar e superar os obstáculos da peregrinação. Pela esperança, que é um sentimento nobre, a fé se mostra inquebrantável aos que comungam da crença. Invariavelmente, o séquito de fiéis espera e crê que seus propósitos serão alcançados de uma forma ou de outra. Nessa caminhada e lá em Romaria não existe espaço para o mal. É o triunfo do bem, porque quem lá está quer para si e seu semelhante a graça e a esperança de uma vida e um mundo melhores, seja qualquer de suas pretensões, orações, preces diante de Nossa Senhora em sua reservada conversa. Cada um tem lá com Ela seu momento de interação humana e sublime, fruto da apaixonada fé que se traduz em misericórdia, doação e entrega. Há determinados locais e situações em que o ser humano está em sintonia com a essência e com a edificação de sua finalidade aqui na Terra, seja na concepção religiosa ou na filosofia ateia que crê em um homem elevado, generoso e solidário. Seguramente, Romaria é um desses ambientes de manancial invejável. Agosto é um mês como qualquer outro, mas nos lugares onde homenageiam e louvam Nossa Senhora d’Abadia é um mês especialmente bem-vindo.
(*) Engenheiro
