Alguns fatos históricos, acontecimentos de relevância e narrativas literárias, reais ou fictícias, têm como referência ruas e outros logradouros onde foram protagonizados.
Em agosto de 1954, o jornalista Carlos Lacerda foi alvejado no pé, durante um atentado na porta de sua casa, na rua Tonelero, no Rio de Janeiro.
O episódio se tornou conhecido como Atentado da Tonelero. Foi o estopim para o suicídio de Vargas, cujas evidências dessa conspiração contra Lacerda recaíram em seus ombros.
A rua Tutóia reside nas lembranças como parte de uma história de luta, de sofrimento e de penúria em tempos de trevas no Brasil. Em 1975, o jornalista Vladimir Herzog foi convocado para depor. Ele compareceu ao quartel da rua Tutóia, em São Paulo, nas dependências do extinto DOI CODI. Herzog morreu lá. Alegou-se suicídio por enforcamento. Em 1978, a Justiça responsabilizou a União por prisão ilegal, tortura e morte do jornalista. Seu martírio simbolizou a luta pela anistia e pela redemocratização do país.
Na Argentina não foi uma rua, mas uma praça, conhecida mundialmente pelas mães da Praça de Maio, que, a partir de 1977, começaram a protestar e a clamar por saber o que ocorreu com seus filhos durante a ditadura militar.
Baker Street, em Londres, ficou famosa por abrigar no número 221b nada mais nada menos que Sherlock Holmes, personagem imaginário da literatura universal da obra de Arthur Conan Doyle. Por lá também rondou o fantasma de Baker Street.
Por aqui rondam outros fantasmas que não se encontram nas páginas de Conan, mas sim em nosso cotidiano e precisam voltar às catacumbas e porões de onde emergiram.
Durante cinco anos uma pergunta é feita: Quem mandou matar Marielle Franco? Marielle é nome de rua no Rio de Janeiro, sua placa foi arrancada e destruída por um inominável e o episódio ganhou o noticiário mundial.
Em Paris, junto à Gare de l’Est, uma das estações de trem da cidade, foi inaugurado o Jardim Marielle Franco. Espaço com mais de 2 mil metros quadrados e cerca de 70 árvores frutíferas. A concepção da homenagem é para que Marielle possa “crescer como uma flor no asfalto”, expressão que dizia com frequência.
Ela e Anderson, seu motorista, foram assassinados em março, mês Internacional da Mulher.
Lembrei-me de mais uma rua e um endereço: “rua Nascimento Silva, 107, você ensinando pra Elisete as canções da ‘Canção do Amor Demais’”.
Luiz Cláudio dos Reis Campos