ARTICULISTAS

Rustin, o legado esquecido

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 18/12/2023 às 18:08
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“O dia que eu nasci negro, eu nasci homossexual”, disse Bayard Rustin a Luther King no momento em que se viu alijado e preterido do movimento pelos direitos civis dos Afro Americanos, pelo fato de ser gay assumidamente. Rustin teve papel preponderante e essencial na organização da histórica Marcha sobre Washington pelo Trabalho e pela Liberdade, em 1963, que contou com a participação de mais de 250 mil pessoas. Em recente lançamento, a Netflix resgata a biografia deste incrível ativista, realçando sua resiliência e convicção nos direitos civis e sua inabalável crença na resistência pacífica, como instrumento de luta e transformação. Uma importante colaboração da plataforma de streaming para que se compreenda a trajetória do próprio Luther King dando luzes a um dos principais artífices para a presença indelével de King na história da humanidade. “I have a dream”, “eu tenho um sonho”, expressão eternizada por Martin Luther King, foi gestada pelo sonho de Rustin e se constata à medida que o filme vai escalando sua militância, seus contratempos, sua obstinação e determinação no que enxergava com aguçada percepção dos preconceitos de que era vítima, tanto pela cor da pele quanto tanto por ser homossexual. Sem Rustin, provavelmente, King não seria a majestade que foi. A contribuição de Rustin vai além de sua incansável militância, realça valores sublimes e preconceitos devastadores, expõe de forma didática pela prática o ser humano real e o ideal, vida e morte de sonhos singelos, mas tão necessários para os que de fato sofrem com a intolerância, racismo e preconceito. Somente os que são vítimas têm a dimensão da crueldade pela qual são acometidos. A história está repleta de Rustins que passam ao largo da percepção e do reconhecimento devidos. Legados de relegados pouco ou nada resgatados. “Quando um indivíduo está protestando a recusa da sociedade em reconhecer sua dignidade como ser humano, seu próprio ato de protesto confere dignidade nele”, sintetiza Rustin como personagem narrador de sua saga, que é a de milhões mundo afora. Difícil imaginar o que diria hoje, passados 60 anos da histórica Marcha e das quase quatro décadas de sua morte, mas, certamente, seguiria lutando diuturnamente em uma sociedade que, no século XXI, vê exacerbados em redes mundiais, em passeatas virtuais e de rua, o ódio, o preconceito e a discriminação. “As rosas da resistência nascem no asfalto. A gente recebe rosas, mas vamos estar com o punho cerrado, falando de nossa existência contra os mandos e desmandos que afetam nossas vidas”, Marielle Franco.

Luiz Cláudio dos Reis Campos

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