Hoje mais um sábado pandêmico me olha atento, desesperado, observando cada movimento meu. Procuro em cada canto o encanto que, por enquanto, se perdeu. E o sábado me invade com seu olhar que agora é de Morfeu e me apavora oferecendo o silêncio de quem já morreu. E o sábado continua a me devorar, amputando-me a condição de quem já correu com as próprias pernas e passeou ao relento, bebendo vento e desafiando o firmamento. E o sábado está, com ar de cumplicidade com a doença, me aprisionando. E ele segue me acuando, em tocaia, como que se me convocasse a provocá-lo ou o convidasse ao diálogo. Mas o que dizer a este sábado modorrento? Será que o convenço? Parece que ele já sabe o que penso. Me conhece há tanto tempo. Mas de qualquer forma ele anda diferente, amanhece diferente, anoitece insolente sem se despedir quando o domingo vem vindo. E eu que neste momento o habito sem poder desembarcar do calendário, percebo, saindo do meu imaginário, a entrada do aroma de outro sábado com cheiro de rua, de gente, de bares, de cantares e de luares de prata. É, mas o sábado parece não me querer nostálgico. Me chama novamente à realidade e decreta em proclamas nossa difícil união. Estamos irremediavelmente inseparáveis. Ele, o sábado, não me reinventa e eu sei que ele não aguenta se recordar de como ele era. Aí ele chora, porém se recompõe e me devora, de novo, com seu olhar fulminante, inerte, sem sair da toca. E o sábado daqui um pouco vai embora e vai levar consigo, na sua memória, a nossa história, vai me fazer vazio madrugada afora. E o domingo, coitado, ao entrar, vai pagar o pato que o sábado deixou do lado de fora. Estamos em dezembro, e os sábados se acumulam marcados pelo traço de uma pandemia que não descansa. Na dança dos números é subestimada, aglomerada. Um novo sábado haverá de ser o babado. Eu assim espero, mesmo que os astros não apontem. Porque sábado não é dia de sóbrios. É dia de saborear na sombra o sobranceiro céu ensolarado. Falar sobre tudo e sobre nada. Uma sabatinada, com o vento soprando sábias respostas. Vaticinado sábado. Vacinado sábado, irei abraçá-lo.
Luiz Cláudio dos Reis Campos