ARTICULISTAS

Sereias do meu ser - Confissões marítimas

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 18/07/2023 às 18:55
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Tudo começou com um despretensioso olhar, correspondido de forma protocolar, tornando indecifrável o que estaria por trás daqueles olhos que encontraram os meus em um momento inesperado.

Inquieto e fantasioso, passei a imaginar as possibilidades desde um simples aceno corriqueiro de entreolhares comuns e diários a uma perspectiva de aproximação mais intensa e promissora.

Já havia um tempo que a observava com interesse inaugural de adolescente, que se lança ao universo da paixão e tentação sexual que nos impulsiona e nos impele com a volúpia que turva a razão e atiça a libido, fazendo desta a força motriz que rege nossas reações físicas e passionais.

Seus olhos castanhos sorriam juntos com seus lábios róseos, tão belos que me despertavam o desejo incontrolável do primeiro beijo.

O pensamento se torna refém da obstinada vontade. Nada interrompe a imaginação, ao contrário, intensificam-se as simulações de uma abordagem que possa ser exitosa.

O receio do insucesso, às vezes, retarda a materialização do sonho, porém alimenta a ilusão e aumenta a expectativa. Haja adrenalina. Estavam dadas as condições para a odisseia do meu primeiro amor.

Assim como Ulysses, embrenhei-me em mares de sonhos, embalado pelo som de uma lira dedilhada com a suavidade inebriante de uma sereia de irresistível beleza e encantamento. Dulcinea do Oceano, Galateia que arrebata e hipnotiza. Pitonisa que controla o futuro e aprisiona o amor.

Magnetizado por essa irresistível atração, marinheiro de primeira viagem, naveguei por incessantes tormentas, delírios, fantasias nas ondas de minha mente cativa de uma paixão descomunal.

Do que é capaz um infante atordoado por um inapelável desejo e uma incontrolável vontade de realizar sua estreia amorosa com a ingênua convicção de ser a única e eterna experiência? É capaz de tudo, sem o mínimo senso crítico, sem o menor pudor, sem limite, sem amor próprio, sem pensar.

A expedição solitária acompanhada de diversas personagens, que se alternam nas versões que se formam para justificarem eventuais contratempos de frustradas aventuras.

O mar revolto de Leviatã, envolto por bruxas e dragões, precisa ser navegado e ultrapassado por honra e paixão. Quixote, de caravelas, espera o reconhecimento da devoção infinita e entrega absoluta, que nunca vêm.

Foi assim meu primeiro amor, que, “como uma flor, desabrochou e logo morreu”. Mas veio a calmaria a soprar ventos brandos, que me desbravaram para a vida de pé no chão e amores nas alturas e nas profundezas oceânicas. Sereias do meu ser.

Luiz Cláudio dos Reis Campos

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