O amanhecer não é um acontecimento instantâneo como se aperta o interruptor e a luz se acende. É, na verdade, um processo lento que se gesta por um período definido pela noção de tempo convencionado. Ou seja, é um evento programado pela rotação do planeta que oferece a cada hemisfério um amanhecer em momentos distintos que nos permite, indubitavelmente, concluir que só é assim possível pela redondeza da Terra.
O amanhecer é um estágio que dá a sensação de renovação, vigor, retomada e recomeço. Amanhecer é tornar claro, é enxergar sem instrumentos é ver pela simples manifestação da natureza em seu constante e rotineiro movimento. Como tudo na vida para ser definido é necessário o contraste. Contrastando se identifica e se conhece o oposto que se manifesta pela negação, contradição, antagonismo.
A existência do contrário dá vida e afirmação ao seu oponente. Bendita então é a noite que nos ampara com sua serenidade e nos convida a espreitar o infinito, porque na verdade, ela não é adversária da manhã, ela é o complemento da outra parte do globo necessária ao cumprimento da incessante trajetória circular em torno do seu eixo imaginário. Preferir a noite ou o dia já é opção e gosto intrínseco de cada ser humano, como também admirar aos dois com a mesma intensidade. Biologicamente temos essas possibilidades de gosto. Imagine o cérebro humano com o formato plano, achatado.
Como se disporiam nessa topografia cerebral a boca, os olhos, o nariz e os ouvidos? Ah, e os cabelos, como um gramado? O cérebro se assentaria em um pescoço que lhe daria amparo em seu centro de gravidade ou seria uma espécie de platibanda se destacando em avanço do corpo na ortogonal? Que dificuldade, creio, teríamos para chegar onde chegamos. Como nós mesmos faríamos a nossa rotação em torno de um eixo imaginário da vida que nos possibilitasse um raio de visão de amplitude semicircular e que, com um pequeno movimento giratório, alcançaríamos a volta completa de 360 graus? Portanto, o cérebro é global, redondo, cônico, jamais plano.
E nós, como seres humanos, a exemplo da Terra, anoitecemos para uns e amanhecemos para outros e, posteriormente, invertemos a aparição. Uma coisa é certa e incontestável, a contragosto dos terraplanistas, amanhã será outro dia.