ARTICULISTAS

Um breve olhar sobre Hoje

Luiz Cláudio dos Reis Campos
lucrc@terra.com.br
Publicado em 11/05/2020 às 20:28Atualizado em 18/12/2022 às 06:12
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O ser humano avança lentamente, o que avança mesmo é a tecnologia, a ciência. A mente humana não segue o mesmo ritmo. Um enorme paradoxo, talvez indecifrável, por conta da própria mente. O "nosso Deus “é o mesmo dos primórdios do Universo, “nossas crenças são as mesmas de sempre”, com um grau de atraso de passar vergonha. Os EUA conseguem eleger Donald Trump. Nós aqui, bom, nem precisa citar. Há uma abissal lacuna entre o racional e o primitivo, que andam juntos ao longo da história da Humanidade e, em certas etapas, o primitivo prevalece. Creio que estamos experimentando agora.

A pandemia, além do aspecto devastador em todos os sentidos, sobremaneira ceifando vidas que se vão fora de hora, ela evidencia e escancara o contraste entre o primitivo e o racional de maneira inequívoca e irrefutável. O Brasil, sem medo de errar, constitui o mais nítido ambiente onde esse dualismo, ambiguidade e dicotomia se estabelecem e não veladamente, mas assumidamente aberto e convicto, de tal modo assustador e inacreditável. É de estarrecedora constatação que a Covid-19 deu mais luzes ao breu de trevas que a mente humana é capaz de se embrenhar.

Estamos diante de algo que atinge o seu ápice no confronto entre ciência e achismo, com o negacionismo em alta, bradado por especialistas com doutorados nas prestigiadas URSs (Universidades das Redes Sociais). No cenário caótico, portanto fértil para o contraste, surge em exponencial e xexelento estilo o chefe da nação para ratificar e sacramentar o tema central deste modesto tratado sobre primitivismo e racionalidade. Dá cores ultravioletas à negação da lógica, da ciência, da ética, do bom senso e da inteligência. Traz consigo e com seu jeitão de ser uma leva de asseclas dispostos a reverberar e até mesmo, em muitos casos, dar a vida à causa do obscurantismo que ultrapassa o fascismo e flerta com o medievalismo precário, para não ir tanto ao pré-civilizatório, que, em diversas circunstâncias, é o caso. Testemunhamos a todo instante e com boa frequência dominical bizarras manifestações com tintas marcantes de acinte e deboche ao coronavírus e seus trágicos resultados, todas estimuladas e embaladas pelo pendor presidencial, que se posta propositadamente adverso ao que determina a OMS e até mesmo seu governo. Para apimentar mais ainda o frenesi de absurdos, aparecem pregadores da fé oferecendo feijão milagroso no valor de mil reais para combater a moléstia, outros insistindo na abertura de templos para celebração da negação à ciência.

É triste e desalentador vivenciar tanto disparate e desprezo ao que mais é precioso ao ser humano para sua evolução, o aprendizado escolar e científico. A conclusão é simples e basilar e se fundamenta no princípio da oscilação entre primitivo e racional. A bazófia, o escárnio, a indiferença às mortes que se contabilizam diariamente e vertiginosamente, associados ao estímulo e indução à desobediência das recomendações implementadas em todo o planeta, nos barbarizam como nação e nos encolhem como seres humanos na figura do Presidente. O Brasil está plugado no “MODO PRIMITIVO”.

Luiz Cláudio dos Reis Campos

 

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