ARTICULISTAS

Verdades Inconvenientes

Quando a incidência de fatos admitidos como verdadeiros, não contestados

Luiz Cláudio dos Reis Campos
lucrc@terra.com.br
Publicado em 15/07/2019 às 21:54Atualizado em 17/12/2022 às 22:31
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Quando a incidência de fatos admitidos como verdadeiros, não contestados, é muito grande, a tendência é também concluir que fatos não admitidos de natureza similar aos confirmados também são verdadeiros. Não se pode ser seletivo em função do que foi exposto, delatado e mostrado. Não tem como compartimentar em um lado verdade convincente e do outro mentira conveniente. É muito provável que tudo seja verdade, porque tudo já não pode ser mentira, tendo em vista muito já se ter admitido por personagens citados. Portanto, é muito mais assertivo admitir que o que foi relatado seja pertinente. Precisão de detalhes com datas, documentos, endereços, reuniões, encontros velados e conversas gravadas forma um inquestionável aparato de irrefutáveis acontecimentos. A erupção vulcânica de tudo se afirma e ganha naturalidade através do enredo coloquial de boteco que pode ser constatado, principalmente por um dos delatores que ganharam notoriedade nacional, tamanha a informalidade com que relatou. Não parece crível haver motivação para direcionar algo fantasioso ou inverídico para A ou B. O que não se crê em uma situação de delação premiada é o delator ser leviano consigo mesmo, as consequências do prejuízo dessa atitude só recaem para si mesmo. Dessa forma há uma sequência de eventos encadeados que corroboram para a efetivação de uma teia que numericamente está ajustada como uma amarração de elementos que se alinham na direção de tudo ser verdadeiro. É como a sequência de Fibonacci, que representa um padrão de números gerado pela soma dos dois anteriores, obtendo-se o seu subsequente sucessivamente. Não tem como errar ou perder o fio da sequência, é muito simples e fácil de compreender. É meio que o poema Quadrilha de Drummond: “João amava Tereza que amava Raimundo que amava Joaquim que amava Lili que amava ninguém. João foi para os Estados Unidos...”, o resto a gente já sabe. Enfim, não parece que existem verdades mutáveis nessa história. Os fatos narrados têm fortíssimo cheiro de verdade inconveniente. Quando muito, nega-se o motivo ou a metade do ocorrido, não se nega por inteiro. E dessa forma não existem meias verdades nem meias mentiras. Os arteiros de ofício deixam evidente que deve haver um hormônio a ser descoberto, tamanha a satisfação com que narram suas façanhas. Há que se estudar.

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