Passaram-se mais de dez anos para se perceber que as bandeiras do Haiti e Liechtenstein eram idênticas, isto porque a Bandeira de Liechtenstein foi alterada em 1921, igualando-se à do Haiti, que já existia nas mesmas cores e geometria desde o século 19.
Foi em Berlim, nos jogos olímpicos de 1936, onde se constatou a igualdade entre os lábaros no desfile dos atletas que representam seus países. Na ocasião, a Alemanha já estava vestida de suástica nazista, adotada como bandeira nacional exclusiva, em setembro de 1935. Hitler já triunfava soberano com sua exaltação à raça ariana e sua política antissemita, cujos jogos serviriam para passar uma imagem de uma Alemanha pacífica e tolerante.
A suástica seria a bandeira a flamejar naquele verão germânico, não fora Jesse Owens, um afro-americano, neto de escravos, natural do Alabama, a triunfar sob o odiento olhar de Adolf Hitler, tornando-se o primeiro atleta a conquistar quatro medalhas de ouro e minar a teoria de superioridade ariana. Owens roubou a cena e ofuscou a bandeira nazista perante o mundo. Triste foi Owens não ter seu feito reconhecido por Roosevelt, presidente dos EUA à época. Por lá, o racismo e a segregação racial corriam frouxos e impunes.
Haiti e Liechtenstein fizeram alterações em suas bandeiras a partir de 1936, o que não mais se confundiria um dos principados mais ricos do mundo com um dos países mais pobres do mundo. Um, de língua alemã, encrustado com a Áustria e a Suíça. O outro, ilha do Caribe, ex-colônia francesa com população majoritariamente negra. Seus IDH são extremos; um está no topo, o outro, no fim da tabela.
Tamanhos contrastes não podem ser simbolizados e nem representados por bandeiras idênticas. A Bandeira do Haiti tremula com sua terra trêmula que instabiliza a vida precária de um povo resiliente e marcado por fome e penúria. A de Liechtenstein ergue-se imponente nos Alpes e se move com o sabor dos ventos de abundância e privilégio.
Para o bem das boas e oportunas coincidências, haitianos e Jesse Owens se encontraram nos Jogos Olímpicos de Berlim. Eles, sim, seguramente empunhavam a mesma bandeira.
P.S.: Com relação às bandeiras do Haiti e Liechtenstein soube por um vexilologista praticante desde os 2 anos de idade, meu filho Victor. Disse-me que vexilologia é o nome dado ao estudo das bandeiras. Vexilologista é aquele que as estuda.