Não me recordo quando fui informado na escola de que a Terra é redonda se me explicaram...
Não me recordo quando fui informado na escola de que a Terra é redonda se me explicaram, ou seja, demonstraram. Creio que não, mas se algum contemporâneo porventura ler minha inquietação, pode esclarecer se estou certo ou se realmente me esqueci da comprovação. Fato é que é redonda e agora posso compreender e entender por que o mundo dá voltas no embalo da rotação planetária. E pelas voltas que o mundo dá, só mesmo redondo para ir e voltar. A parte que o Sol banha é a mesma que lhe dá as costas para voltar-se à Lua. Dia e noite, noite e dia, voltas e voltas na interminável e incansável movimentação de trezentos e sessenta e cinco dias, oito mil setecentos e sessenta horas, quinhentos e vinte cinco mil e seiscentos minutos, trinta e um milhões e quinhentos e trinta e seis mil segundos. Pronto, uma volta completa ao redor do Sol. Sendo assim, por menos monótono que possa ser, anualmente fazemos esta viagem, somos permanentes passageiros viajando sem saber, dando volta por aí nessa nave que transporta bilhões de passageiros humanos, bilhões de tantos bichos, tantas plantas, tanta água e toda sorte de invencionices do homem. Que viagem. Portanto, quando dizemos faz tempo que não viajo, há um engano na informação, porque aquilo que entendemos como viagem é mais um deslocamento do que propriamente viagem. E nas voltas que o Mundo dá vamos chacoalhando sem sentir e deparando com idas e vindas ao longo dessa rota permanente e ininterrupta, até cessar nossa condição de passageiro, quando vivos não mais estivermos. Não há verdade mais chinesa de que a Terra é redonda, que a viagem de todos é sempre a mesma. A diferença são as classes na embarcação, acomodações, aí sim esta a grande diferença e o porquê de a viagem ser agradável ou não. E não tem como sair fora, desde que nascemos somos permanentes viajantes. Este é o embalo da vida, dar voltas em cima da Terra, nesse vai e vem de encontros e partidas, chegadas e despedidas, nesse astro colossal que nos faz viajar diuturnamente. Como disse Fernando Pessoa: "A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos”. E ao fitar frente ao mar, pus-me a observar o navio que longe ia em demorada e lenta singrada que, de repente, do meu alcance desapareceu. Daí senti comprovado que a Terra é redonda e que o mundo dá muitas e muita voltas.