LUIZ CLÁUDIO DOS REIS CAMPOS

Vida de detetive

Luiz Cláudio dos Reis Campos
Publicado em 28/03/2023 às 18:44
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Você já viu um detetive particular em ação? Se já, provavelmente ele tenha fracassado em sua missão. É aquele que jamais pode ser colhido em flagrante. Seu ofício é marcado pela discrição. É uma atividade basicamente solitária que requer dedicação, paciência, confiança e perseverança, claro, com uma dose essencial de talento nato. Sua agenda de trabalho é uma pérola guardada a sete chaves.

Segredos inconfessos guardam anotações que são o tesouro precioso de seu trabalho. Arquivos confidenciais capazes de revelar surpresas jamais imagináveis sem o olhar invisível e microscópico de um talentoso detetive. Necessita de uma apurada sensibilidade para bem compreender e interpretar a natureza humana nos seus mais recônditos dilemas e dramas. Um colecionador de percalços e pecados alheios, testemunha ocular que não depõe em tribunais, captador de flagrantes que desnudam a face oculta de transgressões que rompem as convenções e pactos íntimos e sociais.

Uma vida nada fácil, a do detetive particular. Vida em sigilo. Bechara Jalkh é o mais famoso detetive particular brasileiro. Seu nome já traz em si uma inquietante curiosidade, é incomum e bem dissonante do trivial português. É porque Bechara nasceu em Beirute, filho de mãe brasileira, veio a morar no Rio de Janeiro em 1949, aos 17 anos, de onde nunca mais saiu, e por lá marcou sua carreira como que uma personagem da crônica policial carioca, com inúmeros casos misteriosos, intrigantes e fabulosos. Do escabroso ao pitoresco, do hilário ao sinistro, Bechara viu de tudo. Desvendou intrincadas tramas e desnovelou enredos farsescos. Bechara Jalkh soa bem como nome de detetive, assim como Sherlock Holmes e Hercule Poirot, a vantagem de Bechara é que ele existe.

É como que a materialização do Expresso do Oriente nos trilhos de Santa Teresa. O conhecido caso do sequestro do menino Carlinhos, na década de 70, em Laranjeiras, na capital fluminense, foi alvo de investigação de Bechara, que afirma convictamente o envolvimento do pai da criança em seu desaparecimento. Nada ainda se pode afirmar. Carlinhos, se vivo, hoje estará próximo de completar 60 anos. O mistério e segredo continuam. Alguém soube ou sabe a resposta. Por falar em resposta, o Brasil precisa de muitas envolvendo joias, hotéis, combustível, padaria, juros nas alturas, planos rocambolescos, sequestro desbaratado, traição, infidelidade, dissimulação, oportunismo. Só mesmo chamando o Bechara.

Luiz Cláudio dos Reis Campos

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