Volta a circular nas redes sociais de integrantes da extrema direita a fala do jurista Ives Gandra Martins, publicada em artigo no ano de 2013, que questiona a “discriminação” dos cidadãos que não fazem parte das denominadas minorias.
Ives é um profissional renomado do mundo do Direito. Professor emérito da Mackenzie e da Escola de Comando e Estado Maior do Exército (Eceme).
Gandra também é católico, membro numerário da Opus Dei e fez votos de pobreza e castidade.
Disse Ives: “Não sou nem negro, nem homossexual, nem índio, nem assaltante, nem guerrilheiro, nem invasor de terras. Como faço para viver no Brasil nos dias atuais?”
Martins também não é pobre, embora tenha feito voto. Filho de pai português emigrado e rico em São Paulo. Ives nasceu em berço esplêndido, provavelmente bem distante de negros, índios, invasor de terras, guerrilheiros. Distante de assaltantes já não se pode afirmar. De homossexuais, pela realidade de quando ele nasceu, 1935, é possível que não tenha vivido tão distante, e sim afastado.
A fala do jurista é opulenta em preconceito e traz um questionamento que ele mesmo sabe a resposta, porque, por aqui, ele vive muito bem, da maneira que deseja e com todos os instrumentos e oportunidades necessários para ser livre em suas opções, as quais, por tudo que teve acesso, lamentavelmente ocupou o lugar de vários negros, índios, homossexuais, que padecem da exclusão e rejeição que, seguramente, Dr. Gandra sabe de toda a história e infelizmente optou pelo lado errado dela.
Como fazer para viver no Brasil nos dias atuais, senhor professor emérito da Mackenzie? A Universidade, que ficou conhecida na batalha da rua Maria Antônia, em 1968, por manifestações favoráveis à ditadura com vários de seus alunos membros do CCC (Comando de Caça aos Comunistas). Comando este que colaborou para a tortura e morte de jovens estudantes.
O questionamento do Dr. Ives nada mais é do que a reação ao incômodo que lhe causam aqueles que começam a povoar sua mente em situações completamente distintas do que os que concebeu durante sua formação acadêmica, religiosa e filosófica. Gente de segunda categoria, servil aos senhores da Casagrande. Porque é sem eles que Dr. Gandra idealiza seu mundo e o seu Brasil.
Sua indagação, Dr. Ives Gandra, foi respondida nas posses de Sônia Guajajara, ministra dos Povos Originários, e Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial. Resposta simples, curta e plena: “Nunca mais um Brasil sem nós”.
Quem sabe o sr. se sirva de conhecido slogan da Ditadura para decidir onde será sua morada nos dias atuais: “Brasil, ame-o ou deixe-o”.
Luiz Cláudio dos Reis Campos