É um fenômeno recorrente na história e na política: a apropriação de causas sociais por aqueles que, na verdade, defendem ideologias antidemocráticas ou interesses particulares.
Sob a nobreza de discursos sobre “ordem”, “segurança” ou “tradição”, esconde-se uma agenda que, no fundo, celebra a autoridade e a supressão das liberdades individuais.
A máscara da preocupação social se torna a ferramenta ideal para justificar a intolerância, o autoritarismo e a perseguição a minorias.
Essa retórica populista, muitas vezes, explora as frustrações genuínas da população com a violência, a corrupção e a instabilidade econômica.
Ao invés de propor soluções complexas e democráticas, o discurso se apoia na promessa de um líder forte que “colocará o país nos trilhos”, mesmo que isso signifique o enfraquecimento das instituições e a restrição de direitos.
A “preocupação” com o bem-estar da nação é, na realidade, um verniz para o anseio por um regime que elimine a dissidência e concentre o poder nas mãos de poucos.
A defesa da “moralidade” se torna um pretexto para o controle social e o apelo à “unidade nacional”, um meio de silenciar vozes críticas. O amor pela ditadura não se declara abertamente, ele se disfarça.
Em outro espectro, mas com uma motivação igualmente egoísta, estão aqueles que não se dão ao trabalho de esconder seus verdadeiros objetivos.
Eles não usam a máscara da preocupação social, porque seus interesses são tão flagrantes que não precisam de disfarce. São indivíduos e grupos que lutam, de forma aberta e descarada, pela manutenção de seus privilégios e sua situação social e econômica.
A determinação em preservar o status quo é a sua bandeira.
Para eles, a política é apenas um meio de proteger seu patrimônio e garantir que nenhuma mudança estrutural ameace sua posição de poder.
A defesa de isenções fiscais, a luta contra direitos trabalhistas e a oposição a reformas que visem a redistribuição de renda são exemplos claros de sua atuação.
O argumento de que “o mercado se regula” ou que “a economia não pode ser perturbada” é, muitas vezes, uma forma elegante de dizer: “Não toquem no que é meu”. Não há preocupação com o bem-estar coletivo, apenas uma calculada defesa de seus mesquinhos interesses.
Ambos os grupos, o que se esconde atrás de um falso altruísmo e o que age de forma transparente, representam um obstáculo ao progresso e à construção de uma sociedade mais justa e equitativa.
Um manipula as emoções com a falsa promessa de salvação; o outro simplesmente ignora a necessidade de mudança. Reconhecer essas motivações é o primeiro passo para resistir a esses discursos e defender uma democracia que sirva ao povo, e não aos interesses de poucos.
Marco Antônio de Figueiredo
Articulista, jornalista e escritor