Autoanálise
Será que me conheço? Não afirmar isto seria o mesmo que dizer que não preciso do ar para respirar. Claro que me conheço, pois as vezes que me olho no espelho vejo um ser que vive em uma busca incansável de conhecimento e de luta contra as barreiras pela sobrevivência. Com toda certeza conheço minhas reações diante do mistério que poderá surgir no amanhã.
Hoje, por exemplo, olhei no espelho e me vi um homem cauteloso, pensativo, sentindo os pés apoiados em ovos. Percebi que não é um dia para tomar decisões precipitadas e que, certamente, desconfiarei de tudo e de todos.
Nos dias em que acordo assim, o melhor é mesmo ficar em silêncio, observando tudo e todos à minha volta, com o rosto sério, analisando cada ato e gesto daqueles que passarão por mim. Posso afirmar, sem nenhuma dúvida em errar, que neste dia, a simpatia certamente não será um dos meus sentimentos de destaque. Serei cauteloso ao ponto de pensar na vida, no que vivi, no que irei fazer e no que poderia ser ou ter feito.
Comparando o que pode acontecer hoje com relação a ontem, tudo deve ser diferente, pois ontem acordei bem cedo e fui encontrar com amigos e uma multidão de pessoas, todas dispostas a prestar homenagem ao dia da independência do Brasil.
Gosto dos dias como o de ontem, onde acordo com aquele jeitão feroz, felino, de andar manso e seguro, mantendo tudo sob o domínio do olhar. Os olhos assumem a tonalidade verde castanho claro, provocativo e ao mesmo tempo sereno e decidido. Quando estou assim, costumo falar o que penso sem medo de arrependimentos, de intrigas, de respostas provocativas.
A vida é mutante, mas um dia somente, e pronto. As mudanças são necessárias. Às vezes nem é preciso olhar no espelho para saber que vou, naquele dia, sentir a criança que tenho na alma e que ela quer uivar, fazer dengo e mostrar que sabe confiar. Que depois de terminar “as tarefas” quer mais é saber de brincar, de correr, de pular, esquecer-se de problemas, de dúvidas e de trabalho.
Gosto e sei que todos gostam de dias assim, mas é em dias como o de hoje, quando descobrimos que não dá para ser sempre dessa maneira, pois diante das imutáveis dúvidas do dia a dia, chego mesmo a questionar até mesmo quem sou e em quais circunstâncias me moldo.
Em dias como o de hoje, falo o que devo, escuto o que quero e o que não quero, mas respondo na maior parte das vezes com um sorrio por mais tempo, sem parecer bobo demais. É um típico dia do "só sei que nada sei”.
Após essa análise, só posso dizer que me conheço, não como queria, mas como é preciso e este mistério é que trás vontade de viver, de surpreender. É neste mistério de saber quem sou hoje e a dúvida de como será amanhã, que vem o desejo de buscar respostas, sem deixar que a vida traga muitas surpresas para mim. Mas, de um modo ou de outro, querendo ou não, é isto que sempre acontece.