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Bandido bom é...

A notícia da semana foi o julgamento de policiais que participaram do chamado “Massacre do Carandiru”

Marco Antônio de Figueiredo
Publicado em 15/04/2013 às 08:46Atualizado em 19/12/2022 às 13:37
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A notícia da semana foi o julgamento de policiais que participaram do chamado “Massacre do Carandiru”, movimentando a imprensa em geral, os grupos de defesa dos direitos humanos, alguns criminalistas, vários profissionais na defesa de criminosos, assim como juristas, religiosos, militares, promotores e curiosos. Não vimos nenhum movimento em favor das vítimas e familiares que sofreram com a violência ou morte daqueles que foram “barbaramente executados”, com armas em punho, gritos de revolta e palavras de ordem contra tudo e todos.

Para melhor entender os fatos, começamos por notar que ultimamente, assim como há dez anos, as manchetes que mais chamam a atenção nos noticiários em geral são as que falam de violência.

Quando envolve morte, a chamada principal escancara o escândalo e o sangue que jorra com mais intensidade que as lágrimas daqueles que conviveram com as vítimas ou com o “presunto”, colocado no balcão da “mercearia celeste”, na forma de fatos que irão circular diariamente nos lares.

Quando o dia é tranquilo, não havendo esfaqueamentos e estupros, alguns sanguinários jornalistas, acostumados somente a vivenciar a desgraça alheia, classificam como “um dia improdutivo”; amaldiçoando tudo e todos; praguejando porque “hoje não morreu ninguém!”, expressando em forma de sarcasmo, como pessoas já calejadas e indiferentes com o cotidiano mórbido em que vivem.

Alguns jornalistas não são chamados de abutres, hienas ou urubus à toa. Prova disso foi ver uma reportagem no Jornal Nacional  constando uma gravação telefônica de uma repórter com um traficante, reclamando da “ineficiência” do bandido ao dizer: “Faz dias que não dá homicídio, a cidade tá muito parada”!

Da forma como é colocada incansavelmente dentro de nossos lares os exageros de notícias sobre violência, cria-se, em alguns casos, apelos raivosos e “cheios de razão”, disparados contra os Direitos Humanos ‒ entendidos como “direitos de bandidos” ‒ e contra sociólogos e outros especialistas em segurança pública que, por sua vez, criam “teorias” contrapostas a infames sofismas, afirmando que “se fosse com você ou com alguém da sua família, você não pensaria assim”, sendo rebatidos por familiares das vítimas contra a defesa dos agentes dos direitos humanos, afirmand “tá com pena, então leva o bandido pra tua casa”!

O discurso do “bandido bom, é bandido morto”, que discretamente é inserido na mente de todos nós na forma de reportagens diárias, demonstra os sentimentos de indignação e medo que estamos vivendo devido às ameaças e violências contra nossos bens, direitos e propriedades, difundindo sentimentos de ódio e sede de vingança.

Está na hora de parar de incitar a população a combater a violência com mais violência, o medo e o ódio com mais ódio, pois isso nos conduzirá viver ações à revelia do direito, criando nossa própria justiça, externando nossas paixões e indignações, promovendo uma falsa segurança e uma inatingível paz.

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