Tenho procurado encontrar tempo para ler a “saga” escrita pelo jornalista Elio Gaspari, que ao contrário de quase a totalidade dos livros referentes à ditadura no Brasil, a coleção escrita por este magnífico italiano, que viveu da sua infância à velhice em nosso País tropical, consegue fazer sob a ótica de quem estava no poder, como pensavam, porque faziam, quais os seus objetivos, descrevendo com detalhes o funcionamento, a estrutura, a hierarquia, a mentalidade das Forças Armadas e do sistema governamental do período.
Ao terminar de ler os dois primeiros volumes, fiz uma pausa para comparar com o que acontece hoje em Uberaba, à experiência descrita em cada uma daquelas mil páginas, que descrevem os porões da ditadura, os encontros e estratégias articuladas para manutenção do poder, o sangue gélido dos torturadores e carrascos da morte.
O que assistimos é que quem está no Poder, hoje sem farda, resiste, sabota, corrompe, utiliza da violência e truculência psicológica ou não, contra quem tentar ocupar este fétido comando, ameaçando de “vida e morte” todos que eles consideram inimigos de suas ideias ditatoriais, usando “subalternos”, principiantes e neófitos para servirem de “laranjas” e “parapeitos” de vaidades sem controle.
Os fatos locais nos fazem lembrar o doutor Tancredo Neves quando afirmava que “esperteza, quando é muita, come o dono”, pois os últimos acontecimentos servem de alerta a alguns caciques e “borra-botas” de plantão, que o mal que é praticado por uma minoria, já está sendo direcionada contra si em forma de revolta e ira, afogando no lamaçal todos os atos antes idolatrados pela sociedade.
Ninguém quer saber de brigas, perseguições e picuinhas. Não interessa saber se é deste ou daquele partido político quem está no poder. O que o povo quer é planejamento e união em prol de uma Uberaba melhor. Ele quer e merece mais progresso, composto de crescimento, desenvolvimento, saneamento básico, educação, saúde e transporte digno. Não interessam manobras escusas e egocêntricas. O povo não quer saber de quem “sentou no trono” e canta “daqui não saio, daqui ninguém me tira”!
De nada adianta culpar a imprensa por apontar falhas e promessas não cumpridas, pois como dizia o senador Vitorino Freire, “toda tentativa de calar a imprensa volta-se com razão, violentamente, contra o governo, que só deve ter medo dos jornais se tiver duvidosas contas a prestar”.
Diante de tudo isso, vamos ficar observando e lembrando Rui Barbosa ao dizer “que há tantos burros mandando em homens de inteligência, que às vezes fico pensando que burrice é uma ciência”.