Todos nós imaginamos a força que temos, mas não sabemos a força que tem a saudade de alguém que amamos e nos afastamos dela por algum tempo, que não sabemos o quanto pode durar.
O tempo passa ligeiro e o coração começa apertar e as imagens e recordações começam aflorar, cada vez mais intensamente.
O som do carro, que para ao lado no sinaleiro, toca a música “Naquela mesa”, cuja letra escrita pelo poeta e maestro Sérgio Bittencourt, praticamente faz um currículo de parte de nossa convivência durante quase 60 anos. O som perturba e muito. Não pelo volume, mas pelas recordações e aquele frio que percorre a espinha, trazendo na memória imagens de quando sentávamos em volta da mesa da copa, lá da casa do “Paizinho”.
É... naquela mesa ele sentava sempre, mais do que contar histórias ele fez história, que hoje na memória eu guardo e sei de cor. Nos seus olhos, quando falava do presente ou relembrando sua luta junto com sua eterna amada, “Mãezinha”, tinha tanto brilho, que mais que seu filho, eu sempre fui seu fã.
O carro que estava ao lado, aguardando o sinal abrir, se foi e tive de parar em um estacionamento, pois as lágrimas não mais permitiam que eu dirigisse e a dor da saudade era intensa... Sentindo a presença de meu pai ali comigo. Por longos minutos ou horas, não me recordo, lembrei-me dos teus abraços raros, do teu sorriso, das histórias e da história de tua vida. Vi e senti a tua presença relembrando toda aquela vontade de viver que ele tinha e fazia questão de demonstrar, mesmo com os seus mais de 90 anos.
Entre as lágrimas que insistentemente escorriam pela face, meus pensamentos buscavam a imagem daquele “guerreiro” abençoado por Deus com muita sabedoria e discernimento, sentado na ponta daquela mesa, nos ensinando e nos orientando sempre qual o melhor caminho a tomar.
Saudade! Nem mesmo os poetas, os românticos, amantes ou escritores conseguem defini-la. Mário Palmério se aproximou bastante do conceito de saudade ao afirmar que, “se insistes em saber o que é saudade, precisa antes de tudo, compreender, sentir o que é querer, o que é ternura... Saudade é solidão, melancolia e na distância é recordar e sofrer”.
Paizinho, onde quer que o senhor esteja, ou onde quer que eu vá ou esteja fazendo, sei que continua do meu lado, me orientando e protegendo. Sei que vamos nos encontrar de novo algum dia e vou poder te abraçar novamente, sentir a felicidade em teu sorriso e escutar suas orientações por toda a eternidade, pois muito mais que meu pai e amigo, existem elos de amor, admiração e respeito pelo senhor, que nem a morte pode destruir.