Nas clausuras impostas pela vida, aprendemos que são inquestionáveis as diferenças entre olhar, ver e enxergar. No entanto, devido a questões óbvias, sentimos que é sempre mais fácil não ver determinados atos e fatos do cotidiano, ou simplesmente dizer que não vimos, do que abrir os olhos, enxergar e mostrar os erros à sociedade que insiste em olhar e se comportar como deficiente visual ou completamente cega. Na maioria das vezes, o ideal é ignorar as evidências e afirmar com todas as letras, que estamos enxergando exatamente aquilo que os dirigentes ou nossos “superiores” estão nos mostrando, ou nos entregando para vermos. Para completar, fazemos “aquele olhar” de que o que foi indicado é a mais pura e única verdade. São incontáveis a quantidade de escritores, poetas, jornalistas, psicólogos, seresteiros e “bebuns” que escreveram a respeito dos infindáveis significados que o olhar, o ver e o enxergar nos trazem. Os românticos só vêem o olhar sob a ótica do amor platônico, mas no mundo todo, todo ser humano tem preocupação em saber o significado do olhar de quem está próximo ou distante. Como diriam os romancistas, “a importância que se dá ao olhar, sempre foi preocupação universal”. Realmente, o olhar ganhou e ganha proporções imensuráveis dentro da paixão ao ser inserido, como peça de conquista nas letras dos boleros, dos tangos, dos sambas, da bossa nova, do pagodinho, do rock, das valsas, etc. Se observarmos atentamente, veremos que os russos tornaram imortais os “olhos negros”, enquanto nós latinos descrevemos “aqueles olhos verdes, translúcidos e serenos que parecem dois amenos, pedaços de luar…”. Já os Lusitanos, foram além do “bate-o-pé”, poeticamente se curvaram diante da canção portuguesa que nos diz: “Teus olhos castanhos de encantos tamanhos… sinceros, leais…”. Aqui no Brasil, nunca se esquecendo dos lábios de mel da sempre doce Iracema, Machado de Assis fez com que pudéssemos ver e enxergar, sem olhar, os intrigantes, sedutores, dissimulados e perigosos olhos e olhares de Capitu. O simples fato de olhar é um gesto vital! Em um só tempo você pode ver, pode expressar sua alegria, felicidade, tristeza, dor ou mesmo demonstrar que está disperso. Com um olhar, ao mesmo tempo se vê o mundo e, para o mundo você espelha a alma. Há quem veja sem enxergar, e há quem enxergue sem ver. Mesmo com os olhos bem abertos para a nossa vida cotidiana, ainda assim existe aquilo que não vemos, mas gostaríamos de ter visto, pois os fatos se deram a “dois palmos de nossos narizes”. Por outro lado, existe aquilo que não vemos porque escolhemos não ver. Está passando em todos os canais de televisão um comercial que bem retrata o olhar, o ver e o querer não enxergar. É bem aquilo que acontece ao fecharmos o vidro do carro ou filmarmos os vidros, para impedir que vejamos ou tenhamos contato com as pessoas que nos pedem alguma coisa. É a cegueira que existe em todos nós, ricos, pobres, brancos, negros, jovens, adultos ou idosos, que sempre nos impede de ver e enxergar com o nosso olhar, a verdade da vida. A verdade é que em todos nós existem insulfilmes colocados propositalmente pelas artimanhas da vida, que cobrem nossos olhos, permitindo e aceitando que sejamos enganados quando nos mostram fatos, fotos, obras e realizações que só aqueles que possuem algum interesse conseguem ver. Como disse André Neves: “As pessoas olham da mesma maneira uma situação, mas cada uma enxerga o que quer e da maneira que melhor lhe convém”. (*) advogado marcoantonio.jm@uol.com.br