Há um mapa que não vem com legenda, e nele cada dobra pede para desaprender.
Temos muito a desaprender para entender a vida e desaprender não é esquecer, é abrir espaço, é aceitar que nem tudo precisa caber já.
Crescemos com rótulos: certo, errado, belo, feio, mas a vida dança entre tons suaves que não cabem nesses rótulos.
Aprendemos a medir o tempo em prazos que não são nossos.
O relógio dos adultos marca horas, não coisas que importam e o que importa pode ser sutil como o cheiro de chuva no telhado, o som do silêncio na madrugada, o sussurro de palavras ditas com carinho e a saudade que aperta o coração.
Às vezes, sinto-me como um garoto que cresceu sem pedir licença ao mundo e me pergunto por que certas regras vinham antes do sorriso?
Hoje a pergunta é o que sobra quando as regras se desfazem?
Desaprender começa com a pergunta honestíssima: por que eu acho assim?
O hábito é como uma ferradura mantendo o cavalo calmo, mas fora da sela há vento, há vida, há questionamentos, há surpresas e dúvidas.
Com o tempo aprendemos que desaprender é escutar o vento sem tentar amarrá-lo.
A vida não é uma apostila com respostas prontas, é uma praça onde a gente aprende a segurar a mão errada para descobrir o certo.
Quando uma criança dentro da gente pede passos lentos, a gente atende?
Alguns passos para desativar pausa é outra forma de coragem e coragem não é a ausência do medo, é fazer o que importa mesmo com medo.
Desaprender é tirar camadas de ruídos que nos dizem como serem bem-sucedidos, e esse ruído é muitas vezes brilhante, porém barulhento demais para nos fazer ouvir a própria voz.
Há pessoas que aprendem a falar alto para não ouvir o peito batendo rápido.
Eu, às vezes, troco a pressa por uma xícara de café e observação.
Observação é o ato de não apressar o mundo, pois o mundo não tem pressa de ser entendido, ele só acontece, e cada acontecimento pede para ser ouvido sem protocolo.
É difícil, mas é necessário desaprender os mecanismos de comparação que já vêm enraizados, desde os nossos primeiros passos.
Também aprendemos com o tempo que a verdade que não se repete não é menos verdadeira, apenas diferente.
O que é sucesso, quando a respiração está entre o peso das expectativas? O sucesso de uma vida pode a simplicidade de não se comparar. A gente aprende a medir valias pelos aplausos, mas a vida se revela sempre nos silêncios que restam. Silêncio não é vazio, é espaço para ouvir a própria história.
Quando percebemos isso, o tempo assume outra cor, não que tudo mude de lugar; é que a gente muda de lugar dentro das coisas.
Desaprender é também desapegar de certezas que não nos servem mais.
O processo de desaprender é também uma forma de cuidado com a própria humanidade.
E, se ao final formos capazes de olhar para trás sem ressentimento, aprendemos a entender a vida pela textura de cada instante.
Marco Antônio de Figueiredo
Articulista