ARTICULISTAS

“Estamos calados demais”

Marco Antônio de Figueiredo
Publicado em 07/10/2013 às 11:47Atualizado em 19/12/2022 às 10:45
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Estamos em plena primavera. Nesta terra de Major Eustáquio, entre o abrir das rosas exalando perfumes mil, as festanças acontecem, sejam comemorativas de aniversários, de encontros políticos, quando não, por puro interesse comercial. O que importa é festejar e levar a vida como se fosse um campeonato de futebol.

Já na segunda-feira, ao abrir os olhos começa o treino, pensando no dia a dia da semana, exigindo muito esforço e coragem por não saber como vão comportar os demais jogadores do time e conhecendo a força e a disposição dos adversários. Já saímos machucados, contundidos, mas sempre acreditando na vitória. Depois de enfrentar tantas partidas, já não assusta quando o juiz apita o início da jornada semanal e a bola vem em nossa direção, exigindo concentração e perspicácia.

Vestimos a camisa do esforço e da luta contra o estigma de que tudo pode acontecer e aceitar, pois afinal, “isso é o Brasil”! Mas até quando teremos que lutar para apagar a “tarja preta” de que para ser político no Brasil tem que ser corrupto? Será que tem alguma coisa na água desta terra tupiniquim ou no leite materno destes filhos da mãe? Até o mascote, inserido no folclore brasileiro, divulgado no mundo inteiro é o “Zé Carioca”, aquele personagem das revistas em quadrinhos, que toca pandeiro, gosta de samba, malandro, que fala gíria, indolente e caloteiro. Seria este estereótipo, impregnado à imagem do brasileiro, uma maldição mais forte que o esforço e a garra da grande maioria deste povo? 

Com o passar dos anos as partidas do campeonato da vida vão se tornando mais difíceis, os adversários se apresentam com maior treino e cada minuto representa uma decisão do tipo “mata-mata.” Você deixa de ser simplesmente um jogador e passa a ser o técnico e o preparador físico, para aqueles que irão te substituir nas partidas futuras da vida. Levamos boladas nas costas, caneladas, faltas maldosas, empurrões, xingamentos e outras tentativas de destruição. Daí surge a preocupação ao sentir que o mar de lama que presenciamos no dia a dia dentro dos três poderes, não é menor que os oceanos que banham os cinco continentes. Que o desmatamento da mata Atlântica e da floresta Amazônica é inferior as falcatruas que existem nos corredores das políticas por estes sertões, planícies e planaltos deste rincão brasileiro.

Às vezes queremos fazer um intervalo nesta disputa diária para tentar digerir que estamos calados demais, quietos demais, acomodados demais, diante dos noticiários estampados em toda mídia, muitas vezes ilustrados com imagens das “pororocas” das sujeiras políticas; dos dilúvios de desfalques; da canalhice de decisões e medidas politiqueiras; de rombos de trilhões de reais, apontados nos escândalos da previdência, dos mensalões, das licitações ou da falta delas; dos nepotismos encobertos sob os estigmas da honestidade.

Enquanto isso, o jogo da vida continua sofrendo algumas faltas, algumas substituições, procurando nos defender do principal adversário, que é o tempo, às vezes atacando, evitando a chegada da partida derradeira deste campeonato.

Marco Antônio de Figueiredo

Articulista e Advogado

Pós-Graduado em Ciências

Políticas pela UFSC

marcoantonio.jm@uol.com.br     

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