ARTICULISTAS

“Filho da Pátria”

Hoje acordei com vontade de escrever sobre qualquer coisa que não fosse relacionado com política. Pronto, está decidido. Tudo, menos política. Cansei disso. Ontem li jornais de circulação nacional, vi

Marco Antônio de Figueiredo
Publicado em 30/11/2009 às 10:53Atualizado em 20/12/2022 às 09:19
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Hoje acordei com vontade de escrever sobre qualquer coisa que não fosse relacionado com política. Pronto, está decidido. Tudo, menos política. Cansei disso. Ontem li jornais de circulação nacional, vi todos os telejornais e, certas afirmações e atos de alguns governantes me inspiraram a falar sobre hipocrisia. Mas já estou começando a entrar de novo nesse assunto.

Mas, pensando bem, se não falar sobre política, sobre o que mais poderia falar? Sobre moda, esporte, cinema? Não. Isso não combina com meu jeito de ser. Afinal, escrever sobre o que mais? No meu ambiente de trabalho e vida, ninguém fala de mais nada que não seja política.

Certamente não conseguiria escrever uma crítica cultural sobre cinema sem repugnar o uso do poder, para lançar no mercado um filme politiqueiro em que se destaca um só cidadão como filho do Brasil. Se fosse criticar, certamente diria que todos nós, homens, mulheres e animais, somos nascidos e criados neste País tupiniquim. Partindo desse princípio, poderíamos lançar o filme, "Mula, o quadrúpede do Brasil".

Não dá para não falar de política diante de tanta hipocrisia lançada no ar a todo instante. Destaca-se um só brasileiro enquanto milhares e milhares vivem com um salário mínimo, em condições sub-humanas de sobrevivência, sem condições mínimas de higiene, habitação e educação.

De acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), mais de 29% da população vive abaixo da linha de indigência, sem direito à comida, excluídos totalmente da sociedade, esquecidos e marginalizados.

Não dá para ficar calado vendo salas de cinemas saindo "bajuladores" pelo ladrão, para ver "o filme", enquanto assistimos que a saúde publica é deplorável, a educação se encontra na UTI e os pobres sobrevivem de campanhas populistas de bolsas "miséria, gás, família, voto, reeleição, pesquisa eleitoreira, escola, geladeiras, material de construção", etc.

Nós brasileiros somos tão criativos e inventamos sempre expressões que refletem exatamente a situação política atual. Prova disso é que "aprovamos" sem nenhuma discussão o título do filme do an "LULA, o filho do Brasil", como se somente ele, o presidente aposentado por invalidez porque perdeu um dedo, fosse o único filho heróico deste Brasil varonil.

Enquanto isso, ao sairmos de casa poderemos ver a olho nu todo tipo de miséria que nos rodeia, formando um Brasil ocupado - pela grande maioria de esquecidos, mas que se tornam minoria em alcançar qualquer benefício por não terem nenhum poder para mudar esta situação.

Relutei o quanto pude em escrever sobre política, mas acabei por fazer parte desta seleta classe sensacionalista da mídia nacional, comentando sobre o filme que foi, sem nenhum interesse, patrocinado por empresas que participam de concorrência pública federal, e que estará em todos os cinemas a partir do primeiro dia de 2010, ano em que acontecerão as eleições para presidente no Brasil.

Afinal, a política é a arte de usar a mentira e a verdade sempre em favor próprio e nada melhor que um filme para tudo se concretizar na reta final da corrida eleitoral.

Como diria Mateo Alemán: "Os hipócritas são como as tâmaras: o doce está fora, o mel nas palavras e o duro lá dentro, na alma."

Advogado e Articulista marcoantonio.jm@uol.com.br

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