Domingo... três horas da manhã e o sono não vem! Lembranças e pensamentos mil me fazem refletir...
Domingo... três horas da manhã e o sono não vem! Lembranças e pensamentos mil me fazem refletir...
Num piscar de olhos vieram lembranças da minha adolescência, de todos aqueles sonhos da infância e dos novos que tomaram seu lugar.
Lembro-me de que acreditava poder mudar o mundo com ideias revolucionárias, agitação da juventude, com o vigor da minha voz e com os textos por mim escritos.
Envolvi e lutei em muitas causas perdidas. Descobri que não se vence batalhas lutando sozinho.
Vivi parte da minha juventude acreditando que poderia ser ou fazer a diferença, descobrindo a duras penas de que nada adianta um grito de liberdade através de artigos e crônicas, ou mesmo indo para as ruas, se a censura à liberdade de expressão o ensurdece.
Parei... fechei os olhos... descobri que até hoje aquelas palavras e aqueles artigos estão engasgados na minha garganta, sufocadas pelo medo e censura.
Fiz uma pausa... preparei um suco de abacaxi com hortelã e fui para a varanda do quarto, tentando respirar e me livrar daquele sentimento.
Lembrei-me de frases de Augusto Cury que dizem: “Vocês podem calar a minha voz, mas não os meus pensamentos!... Os fracos usam as armas, os fortes as ideias”. Refleti por instantes e voltei meus pensamentos para a realidade de hoje.
Meus pensamentos se voltaram a este mundo virtual que nos envolve com informações que massacram nosso senso crítico, procurando nos moldar, quebrar barreiras e nos alienar de tal forma que nos impeçam de amadurecer.
Pensando bem não dá para negar que a era virtual e digital abriu um leque de possibilidades, tornando-se uma via de conhecimento tanto para quem escreve quanto para quem lê, mas também serviu como uma virose social para infectar as redes sociais de preconceito, ódio, assédios, mentiras, depravações sexuais, difamações, calúnias, ameaças, libertinagem de expressão, inserindo o medo e, via de consequência, a censura à liberdade de expressão.
Liberdade de expressão e censura... palavras que me entristecem. Por instantes o som do silêncio da madrugada se confundiu com a explosão silenciosa da mordaça que estampava imagens da censura em minha mente.
Abro os olhos e falo comigo mesmo que tudo farei para que nada consiga calar ou impedir que eu possa me expressar. Já me calei outras vezes, mas estou pegando minhas “trouxas” e partindo no próximo voo. Sei que vou sentir uma leve tristeza, mas, mais cedo ou mais tarde, vou confessar a mim mesmo que estou aliviado. Deixarei apenas uma palavra de adeus, como se fosse um artigo perdido numa manhã de segunda-feira.
(*) Marco Antônio de Figueiredo
Advogado e articulista