Ontem comemoramos o dia das mães e hoje a Lei Áurea. Em minha cabeça as datas se misturaram, trazendo à lembrança uma poesia que tive que decorar e recitar no dia 13 de maio, no “Grupo Escolar Ernesto Santiago”, contando ainda com apenas sete anos de idade, com o título “Mãe Preta”. Guardo na memória fragmentos desta poesia linda, que me faz lembrar as mães negras alimentando as crianças com leite que as mães brancas não possuíam. Ficaram gravadas para sempre as palavras do poema de José de Freitas, quando afirmaram que foram muitos “nenéns” que se amamentaram; eram pretos e brancos, todos recém-nascidos. Entre os brancos até doutores se formaram que hoje são irmãos de leite, porém desconhecidos entre si. Na senzala à tarde, as mães pretas faziam oração para agradecer a Deus o trabalho do dia.
Tudo que foi escrito pelo poeta, vivenciamos ainda, apesar de comemorarmos no dia 13 de maio o fim da escravatura, o mundo cruel em que vivemos, estampando dentro de todas as classes sociais o preconceito entre brancos e negros, entre negros e brancos, entre índios e agricultores, homens e mulheres, entre colegas de trabalho, entre homo e hetero sexuais, enfim entre vaidades incutidas na mentalidade doentia de muitos seres semirracionais.
Relembrando, a poesia Mãe Preta, o dia das mães e a luta contra o preconceito racial, dedico o artigo de hoje a uma colega amiga, humilde, guerreira, Mãe com “M” maiúsculo e que há poucos dias derramou lágrimas de tristeza, temperadas pelo sal do preconceito, conhecida como a atendente Vera Lucia dos Santos, ou simplesmente Dona Vera, pois é assim que a chamo.
Na sexta-feira tive a oportunidade de conversar com D. Vera por mais de uma hora, fato este que me fez sentir que de suas palavras saiam poemas da alma, e seu aspecto frágil e sofrido exalavam palavras que valiam mais que um TCC de mestrado, enquanto suas lágrimas estampavam a dissertação final do preconceito sofrido que se prolonga por longos anos, principalmente por ser mãe e negra.
D. Vera, realmente não sei quanto tempo vai demorar, para que os seres humanos, mesmo os letrados, sejam eles homens ou mulheres, olhem para dentro de si mesmos e percebam que o problema não está na cor e parem de alimentar o próprio racismo, que faz a desigualdade social aumentar. Também não sei até quando os falsos moralistas, que também se comportam como racistas radicais, vão continuar com os sentimentos de compaixão e olhar todas as raças de igual para igual, sem cotas e diferenças!
Minha amiga e colega Dona Vera Lucia dos Santos, Mãe e Negra com muito orgulho e honra, através da senhora, gostaria de homenagear e abraçar todas as mães, inclusive a minha Mãezinha Karina Spirandelli de Figueiredo, pedindo que a “Mãe das mães” estenda seu Manto Azul, e cubra de amor a cada mãe, hoje e todos os dias de suas jornadas cuidando de seus tesouros.