A televisão ainda é uma das principais fontes de informação política para nós, brasileiros, especialmente em regiões onde o acesso à educação e à leitura é limitado.
No entanto, seu papel na formação do pensamento político é ambíguo, pois se por um lado ela tem o poder de democratizar o acesso à informação, por outro, frequentemente, atua como veículo de manipulação ideológica, favorecendo determinados interesses políticos e econômicos.
Programas jornalísticos e comentaristas políticos apresentam opiniões como fatos, simplificam temas complexos e estimulam reações emocionais ao invés da reflexão crítica. O que mais se vê é o espectador induzido a aderir a narrativas que confirmam seus preconceitos, sem acesso a outras visões de mundo.
Essa construção enviesada do discurso político contribui para a radicalização, o fanatismo e o esvaziamento do debate público, como em nossos dias, nesta terra tupiniquim.
Por outro lado, a leitura, especialmente de obras de ciência política, sociologia, história e filosofia, oferece ao cidadão as ferramentas necessárias para compreender a política em sua complexidade.
Um leitor assíduo certamente conhece os conceitos de Estado, poder, democracia, direitos civis e estrutura econômica, entendendo o funcionamento das instituições e a importância da participação cidadã.
A biblioteca, nesse contexto, não é apenas um acervo de livros, mas um símbolo da busca por entendimento profundo e plural.
Quem lê desenvolve a capacidade de analisar discursos políticos com base em dados, teoria e contexto histórico, evitando cair em armadilhas retóricas ou desinformação. A leitura promove autonomia intelectual, fundamental para o exercício da cidadania ativa e crítica.
O esvaziamento do debate político e a impossibilidade do diálogo expressam a frustração comum de quem tenta debater política com indivíduos que não possuem repertório teórico, prático ou histórico, mas apenas repetem o que ouviram em programas de televisão ou vídeos de redes sociais.
Nesses casos, o debate não é produtivo, pois não há troca real de ideias, mas apenas a reafirmação de crenças previamente absorvidas.
Discutir política com alguém que não lê, não pesquisa e não questiona suas próprias convicções é como dialogar com um espelho quebrado. O debate político saudável exige argumentos, escuta, evidências e disposição para aprender — qualidades raramente cultivadas por quem consome política apenas pela TV.
“Nunca discuta com alguém cuja TV seja uma fonte de conhecimento maior que sua biblioteca”, é mais do que evitar discussões improdutivas, fazendo-nos lembrar da importância de uma educação política sólida e da valorização do saber profundo, para ser possível construir uma democracia madura, tolerante e participativa.
Marco Antônio de Figueiredo
Articulista