Segunda feira... Início de uma nova manhã: levei minha filha Samara no Colégio José Ferreira, para mais uma semana de estudos
Momentos que não voltam
Segunda feira... Início de uma nova manhã: levei minha filha Samara no Colégio José Ferreira, para mais uma semana de estudos. No retorno, passei pelo Bairro Estados Unidos e parei no cruzamento da Rua Martin Francisco. Olhei para a esquerda e cheguei a ver a Farmácia do Sr. Babá, o farmacêutico Éden, a Casa Santos Guido, a sapataria da esquina, mas o silêncio quis dizer algo e resolvi estacionar o carro e curtir as lembranças que insistiam em aflorar.
O cantar dos pardais soavam estridentes dos telhados dos velhos casarões, convidando para observar o mundo. Vez por outra se ouvia passos apressados de pessoas para mais um dia da jornada de trabalho.
Olho para os lados e sinto uma calma anestesiante; sinto o barulho do vento empurrando algumas folhas secas que caíram das árvores, despedindo do inverno e fazendo lembrar cenas da infância, de pessoas que marcaram aquela época, de vozes que já não mais fazem parte do cotidiano. São memórias recolhidas no âmago do subconsciente, surgindo como num passe de mágica, criando um túnel do tempo, tornando tudo real.
Senti como se o tempo estivesse congelado e ouvi a voz e a imagem do Sr. Hermindo me ensinando a jogar Xadrez; a turma do Colégio Castelo Branco que se reunia na casa da Dona Helena, mãe do Aderlon Gomes; do amigo Sérgio Toledo Vilas Boas, o Othoniel Reis; o Ulisses da Lamel; o Silveira Lima, Valéria Castejon Garcia, Jussara Santa Cruz, Lucia Diamantino, Meyre Tochiba e tantos outros.
Tínhamos respeito e um pouco de medo do professor Jaime Moisés, do Fernando Santa Cruz, do advogado Vicente de Paula Cunha Braga, da Profª Eunice Fenelon e outros.
Por causa do barulho de automóveis e pedestres, fui me despertando, enquanto o sol começou a esquentar e beliscar minha face. Tentei ver algum rosto conhecido dentre as pessoas que por ali passavam, como se quisesse ir ao encontro de alguns momentos de um tempo que ficou para trás, mas que conserva ainda a recordação estampada através de fotografias, sons, aromas, vozes e tantas outras coisas, que seria necessário muito mais tempo para descrever.
De repente me veio na lembrança o fogão de lenha que tinha na casa em que morávamos, ali na Martim Francisco, onde a lenha queimava, espalhando um cheiro mais ou menos ao meio dia, para anunciar a hora do almoço.
Olhei para baixo e não mais vi o chão de terra e nem paralelepípedos e bateu saudade de subir em árvores, jogar pião, pular corda, olhar as estrelas com binóculo feito com canudo de papelão e vidros de garrafas quebradas. Que vontade de novamente jogar finco, soltar pipa, brincar com os amigos até acabar o Repórter Esso, sem preocupar com bandidos...
Olhei para o relógio e assustei porque tinham passados mais de 50 minutos, mas ficou aquela saudade dos momentos que não voltam, das palavras que foram ditas, daquela história vivida por mim e outros personagens que desapareceram, escrevendo outras histórias deixando para mim páginas ou uma história inacabada! De volta à realidade, segui em frente para escrever novas páginas no livro da vida.
Marco Antônio de Figueiredo – Advogado e Articulista