ARTICULISTAS

Não dá para negar...

Sou da turma dos “enta”, pois assistia o Rin-tin-tin, o Vigilante Rodoviário, Perdidos no Espaço e o seriado do Zorro

Marco Antônio de Figueiredo
Publicado em 09/02/2015 às 09:09Atualizado em 17/12/2022 às 01:30
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 Não dá para negar...

Acompanhando o espaço dedicado aos articulistas do Jornal da Manhã nos últimos meses, percebi que a “turma” da era cronológica dos “enta”, de cinquenta a noventa anos, tem direcionado suas crônicas e artigos às lembranças do passado, muitas vezes, como lição de vida e outras vezes como desabafo saudosista.

Vendo os artigos de Padre Prata, com seus detalhes do poder econômico e educação de ontem e de hoje; acatando os conselhos de “velho amigo Dino” ao mestre João Gilberto; agarrando na dedicação e capacidade de lembrar e relembrar, do amigo João Eurípedes Sabino; espelhando na biblioteca de fatos existente na memória lúcida e dinâmica do Professor Guido Bilharinho; lendo o artigo de sábado no JM, do Juiz Ricardo Motta, isolei-me de tudo e de todos, deixando os pensamentos criar imagens e sons de um passado que, certamente, o imaginário sertanejo e pescador do “Dino” chamaria de "Tempo do Onça".

Como também já passei dos sessenta, sou da turma dos “enta”, que viveu no tempo em que aos domingos todos iam à missa e depois a criançada brincava na rua Martim Francisco, enquanto as mães e vizinhas ficavam na calçada “fofocando”, deixando as portas das casas abertas.

Sou do tempo das alcovas políticas do Restaurante Polenta, do “Neném do Chaparral”, Três Coroas e Bar da Viúva; frequentei as Boates do CAIO, da MED, do Mingau do Jockey, do DALO, das reuniões políticas no Bar do Archimedes, comandadas pelo inesquecível “Piola”; abasteci meu fuscão e o “Gordini” no posto do Zé Frange, com aquela arquitetura que enfeita a rua Padre Zeferino. Sou daquela turma que ia aos domingos na Sorveteria Pinguim e fechava a Artur Machado; comi muito cachorro quente do Japão, ainda no carrinho de mão; sou do tempo em que a grande loja uberabense era a Casas Pernambucanas.

Sou do tempo em que menino só namorava menina e menina só namorava menino; que rojão era só foguete em festas de São João; o tempo em que "ficar" era não ir, assim como passar o tempo e paquerar era ficar na av. Leopoldino, na saída do Cine Metrópole; sentar na “muretinha” da praça e ficar vendo as meninas do Grupo Brasil; dos Colégios Nossa Senhora das Graças, Nossa Senhora das Dores, do Estadual e do “Zé” Ferreira.

Bons tempos aqueles da Rádio PRE5, do confete e serpentina nas festas de Carnaval do Sírio; tempo em que "pó", significava poeira; do “Denorex” que parece, mas não é”... Em que se podia curtir a vida sem bala perdida; tempo de respeito aos pais e por quem dirigisse o País.

Não dá para negar que sou da turma dos “enta”, pois assistia o Rin-tin-tin, o Vigilante Rodoviário, Perdidos no Espaço e o seriado do Zorro; usei caneta tinteiro no colégio, tomei Biotônico Fontoura e fortificante Calcigenol; viajei de Maria Fumaça de Uberaba para Peirópolis, Jaguara, Pedregulho e Franca.

Esse tempo que não voltará mais... Mas, como disse Dr. Ricardo Motta, “... sentir saudade é parte do prazer de viver vitorioso”.

Marco Antônio de Figueiredo – advogado e articulista

Marcoantonio.jm@uol.com.br

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