Madrugada de sábado. O relógio marca quatro horas e o termômetro acusa 5 graus, com sensação térmica de 3.
O vidro da varanda está embaçado com gotículas escorrendo lentamente, enquanto o silêncio é quebrado por sirenes de ambulâncias ou por escapamentos de carros daqueles que teimam em curtir os finais de semana, aglomerando, se encharcando de bebidas e chamegos, mesmo em plena pandemia.
Quanto tempo ainda teremos que esperar para vivermos a tal normalidade, os relacionamentos pessoais, sem medo e restrições?
Fecho os olhos e experimento, apenas respirar, como procurasse viver minutos na eternidade, procurando manter meu corpo naquele momento único existencial, deixando minha mente produzir e viver, sendo detentor do poder de regular o tempo.
Imagens surgem como se os ponteiros do relógio corressem não em forma circular, para o nada, mostrando que tudo que fazemos exige urgência, em uma necessidade insana de cumprirmos algo, como se tudo estivesse mais rápido.
Abro os olhos e me veio à mente um artigo que li há tempos, de Daniela Castro, que questionava: “O tempo existe por si só e nós o apressamos, ou o relógio realmente está andando mais rápido?”.
Será ilusão ou realmente estamos tendo a impressão de que tudo está mais rápido? Einstein já dizia que o tempo é uma ilusão.
Meu cérebro entrou em ebulição em busca de respostas. Imagens em velocidade supersônica se projetam, fazendo um retrospecto, analisando que no dia a dia vivenciamos por segundo telefones tocando, tarefas insubstituíveis a serem cumpridas, carros acelerando, sons e imagens que nossos sentidos nem percebem, mas estão espalhados em fachadas, lojas, shopping centers...
São incontáveis atualizações instantâneas que mudam nossos comportamentos, nossas prioridades, acelerando tempo em nossas vidas.
Certo dia, conversando com o médico intensivista e seleto amigo, Dr. Agil Pereira, abordamos o assunto de que o tempo estava ficando escasso. Ele ponderou “que é como se nós não pudéssemos desfrutar do tempo de outra forma que não fosse para produzir, por isso, a sensação de “perder tempo” era constante”.
Percebi que o tempo passou... o dia está clareando...
Tempo... o que é? Talvez seja realmente aquele velho, o senhor da razão, que, na medida em que te traz algo desejado, pode levar de nós momentos, lembranças, amigos, entes queridos, boas lembranças, paixões, mas também tudo pode se ajustar com o passar do tempo.
O que posso concluir é que o tempo sem atitude é um engodo ou, simplesmente, perda de tempo...
Marco Antônio de Figueiredo - Articulista do Jornal da Manhã - marcoantonio.jm@uol.com.br