Esta madrugada estava aqui pensando na vida, nas conquistas e perdas.
A perda pode ser vista em uma perspectiva profundamente poética e, ao mesmo tempo, incrivelmente prática sobre a resiliência e a autodescoberta: "Não culpe o vento por te desfolhar, agradeça por te mostrar quais raízes estão dispostas a te sustentar."
Esta frase carrega uma sabedoria ancestral, transformando o que a princípio parece uma tragédia – a perda das folhas – em um poderoso catalisador para o crescimento e a verdade.
A vida, como as estações, é feita de ciclos de bonança e adversidade. O "vento" não é apenas a crise avassaladora, mas também a rotina desgastante, o julgamento alheio, a perda inesperada, a pressão de manter aparências.
Em momentos de calmaria, quando a árvore está repleta de folhagem verde e exuberante, é fácil iludir-se com a ilusão de plenitude e segurança inabalável.
O peso e o brilho das folhas, as conquistas visíveis, a aprovação social, tudo isso compõe uma fachada que, embora bela, pode ocultar uma fragilidade estrutural.
É o vento, a crise, a adversidade, que chega impiedosamente para cumprir um papel essencial.
Ele não é o inimigo; é o agente de triagem, o teste de estresse natural.
Ao soprar com força, ele arranca o que é superficial, o que está preso por um fio fraco.
As folhas caem – as certezas que não eram sólidas, os relacionamentos que não eram recíprocos, as crenças que não eram autênticas, os projetos que não tinham propósito.
O ato de "desfolhar" é, portanto, um processo de necessária depuração.
A tendência humana imediata é o lamento e a culpabilização. "Por que comigo? Culpa da crise, culpa do mercado, culpa daquela pessoa, culpada vida?".
Essa postura nos mantém como vítimas passivas, focadas naquilo que perdemos.
A sabedoria da frase, contudo, reside no convite para desviar o olhar do chão coberto de perdas e dirigi-lo para baixo, para dentro: as raízes.
As raízes são aquilo que verdadeiramente nos sustenta: o caráter, a fé, os valores inegociáveis, a família escolhida e a de sangue, a autoconfiança desenvolvida, a capacidade de adaptação, a rede de apoio genuína.
Enquanto o vento leva as folhas — o ornamental e o perecível — ele expõe a força das raízes.
Quais são as raízes que resistiram ao vendaval? Aquela amizade que ligou ou esteve presente no pior momento.
O hábito de meditar que se provou um refúgio.
A disciplina de economizar que agora garante a sobrevivência.
A força interna que você não sabia que tinha até precisar dela.
O vento, ao despir a árvore, permite que ela veja sua verdadeira estrutura e a identifique com gratidão.
Agradecer pelo vendaval é agradecer pela verdade que ele trouxe. É reconhecer que a resiliência não está na folha que balança, mas na raiz que se aprofunda e se agarra à terra.
É um chamado à introspecção: a árvore que sobrevive ao inverno e se desfolha está se preparando, paradoxalmente, para florescer com ainda mais vigor e sabedoria na próxima primavera.
Ela volta a crescer, mas desta vez, com a certeza de que suas raízes são, de fato, inquebráveis.
Marco Antônio de Figueiredo
Articulista do Jornal da Manhã