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Visão analítica e crítica ferina

Levantei e fui para a área de lazer. Peguei para ler o texto de Sêneca, “Da Tranquilidade da Alma”, - coleção “Os pensadores”

Marco Antônio de Figueiredo
Publicado em 04/04/2016 às 08:40Atualizado em 16/12/2022 às 02:59
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 Visão analítica e crítica ferina

É madrugada de domingo. Calor abafado do início de outono. Levantei e fui para a área de lazer. Peguei para ler o texto de Sêneca, “Da Tranquilidade da Alma”, - coleção “Os pensadores”, - Editora Abril, onde as palavras do autor confortam, trazem calor e luz em horas escuras, como esta.

Gosto de ler e a coleção “Os Pensadores”, principalmente Sêneca, devido a situação atual desta terra ainda tupiniquim, onde seus posicionamentos continuam intensamente atuais, pois mesmo escritos há quase 2 mil anos, sua visão analítica e sua crítica ferina permanecem em seu frescor.

Em pleno século 21, vivemos uma época conturbada, massacrada, onde por todos os lados só se ouvem reclamações, queixas, choros, crises, amigos achincalhando amigos e irmãos por causa de política, redes sociais incentivando o ódio com imagens verdadeiras e mascaradas sobre este ou aquele reduto partidário, agremiações, associações e membros de poderes constituídos tentando denegrir a imagem uns dos outros, e somos obrigados a admitir que o avanço tecnológico nos acorrentou a um progresso pernicioso, devastador e mortal.

Ao reler neste silêncio da madrugada, Tranquilidade da alma, minha admiração por este filósofo grego só se solidifica, pois as reflexões sobre o estado de agitação em que parecemos estar condenados a viver, tirando a evolução tecnológica, em nada mudou. O autor cita Demócrito, outro filósofo grego que diante da miséria humana optava por rir em vez de chorar ao descrever que, “quem quer viver com a alma tranquila não deve ter muitas ocupações”. Neste momento parei... fechei os olhos e tentei escutar as mensagens do meu cérebro que insistia em não querer refletir sobre a revoltada vida deste povo que se dizia estar no “PáTrôPi”, abençoado por Deus e bonito por natureza.

Insisti na reflexão e vi somente, em todos os lugares e até mesmo em reuniões familiares, zumbis viciados em tecnologia, a um só tempo teclando no celular, falando ao telefone e comendo sanduíche, mas no Whatsapp, todos estressados. Por um momento descobri que estou sendo engolido por esta “areia movediça” tecnológica, esquecendo que nossas ações são realmente úteis e imperiosas, apesar de poucas, quando não, nenhuma.

Li certa vez que na maioria das vezes este nosso vai e vem em busca de algo que dificilmente descobrimos o que é, mas não paramos para saber, pois queremos somente cumprir a mesma tarefa diária que acaba em uma Lesão de Esforços Repetitivos (LER) da mente, por causa das atividades mecânicas, quando não, inúteis a que nos entregamos. Tais movimentos no lembram “as idas e vindas das formigas ao longo das árvores, quando elas sobem ao alto do tronco e tornam a descer, para nada”.

Amanheceu. Vou preparar o café, mas não sem antes sentir o peso ao reconhecer que eu, você e a maioria destes que se dizem humanos e não “humanoides” já subiram e desceram os troncos das árvores da vida, apenas pela dificuldade de ficar parado.

Marco Antônio de Figueiredo – advogado e articulista

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