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Você não vale nada, mas...

Como diria J.R.Guzzo da revista Veja, “a burrice faz parte das doenças que não têm cura; por isso mesmo, produz efeitos em qualquer época, como se pode verificar com tanta facilidade no Brasil...

Marco Antônio de Figueiredo
Publicado em 21/09/2009 às 01:31Atualizado em 17/12/2022 às 05:24
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Como diria J.R.Guzzo da revista Veja, “a burrice faz parte das doenças que não têm cura; por isso mesmo, produz efeitos em qualquer época, como se pode verificar com tanta facilidade no Brasil de hoje”. E, quanto a isto, não resta a menor dúvida, pois, o que mais se ouve nos dias atuais é a canção que se tornou destaque na novela Caminho das Índias, conhecida como “você não vale nada, mas eu gosto de você”. Se observarmos com atenção, veremos que a letra desta música lembra os acontecimentos atuais da vida política nacional, ou seja, irrita, mas apesar de tudo, jamais sai da cabeça e do coração”.   Dá para ter saudades da aurora de nossas vidas e de nossas infâncias queridas, quando Flávio Cavalcante, em seu programa “Um instante Maestro”, quebrava os discos que eram gravados com músicas sem nexo, sem rima, sem conteúdo, sem decência, ou quando o nome do conjunto não condizia com os bons costumes. No entanto, nos dias atuais, o que vemos são conjuntos “famosos” com nomes como “Sepultura”, “Calcinha Preta”, “Batom na Cueca”, “Golpe de Estado”, “Joelho de Porco”, “Má Companhia”, “Ratos de Porão”, “Gangrena Gasosa” e outras coisas esquisitas a mais. O antropólogo Roberto Da Matta, usou o sentimento inserido na música da personagem “Norminha”, da novela de Glória Perez, gravada pelo conjunto “Calcinha Preta”, “Você não vale nada, mas eu gosto de você, tudo o que eu queria era saber por que...” para explicar o sentimento da elite política, que despreza o país e o povo.   Chegam às raias do absurdo, mas a nossa “querida” Caixa Econômica Federal divulga, em rede nacional, no horário nobre, em todos os canais de televisão, o slogano banco que acredita nas pessoas”, mas alardeando ao fundo, a música “Você não vale nada, mas eu gosto de você”. Se prestarmos atenção no comercial, veremos com toda clareza os dois sentidos ali implícitos: Até exatamente à metade da propaganda, o trecho “Você não vale nada, mas eu gosto de você” se refere ao carro e aos eletrodomésticos. No entanto, a partir deste momento, veremos que a esposa canta o trecho para o marido. Para completar, no fim da propaganda, aparece a filha beijando o pai somente porque ele comprou um carro novo. É de se concluir que o mesmo banco que diz acreditar nas pessoas é aquele que diz que elas nada valem, a não ser que rendam algum lucro financeiro.   O que entristece a população politizada é que o Brasil, assim como a “Norminha”, tem muitas máscaras, dentre elas aquela em que se afirma ter se livrado da hiperinflação com mais democracia, e há também a que se faz acreditar sobre o risco de destruir a oposição pelas mãos do Lula, no afã de fazer uma sucessora. Mas, a principal máscara é a que encobre as falcatruas, a corrupção, os crimes cometidos à vista de todos nós, as confissões de práticas delituosas, sendo que tudo acaba em pizza ou em piadas televisivas dos programas humorísticos “Pânico na TV” e “CQC”. Chegam novas eleições e aqueles mesmos políticos que todos nós sabemos que nada valem se elegem ou se reelegem ao som do refrã “... tudo o que eu queria era saber porque...”.   Mas paira a dúvida no ar, como diria Dorgival, pois o ”porque desse nosso amor por um tipo de poder que faculta a hipocrisia, a chantagem emocional, a roubalheira, a incúria administrativa e todos esses outros monstros que conhecemos tão bem. Se esses caras não valem mesmo nada, não basta execrá-los. É preciso saber por que nós os amamos tão apaixonadamente”.

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