A presença dominicana em Uberaba sempre foi marcada por lutas e busca da Verdade. Cada frade dominicano que passou pela Igreja de São Domingos ou mesmo nas comunidades das Irmãs Dominicanas testemunhou o amor à vida e a paixão por Jesus Cristo. Nesta semana da pátria, faço memória a frades e religiosas que sofreram inúmeras pressões por lutar pela justiça social, por liberdade de expressão e pela dignidade humana. Os registros, principalmente por meio do Correio Católico, expressam este pioneirismo e comprovam a presença e o poder eclesial de Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, Arcebispo de Uberaba na época, em pleno período militar, exaltando o trabalho da FISTA e colocando em realce especial a obra apostólica do Padre Tomás Aquino de Prata e Monsenhor Juvenal Arduini, junto à juventude uberabense. A Igreja defendia a fé e a tradição cristã, em repulsa aos extremismos impostos pelo contexto da época. Leigos e sacerdotes lutavam por uma sociedade mais justa, humana e igualitária. Dom Alexandre posicionou-se com firmeza diante do governo revolucionário de 1964, como autoridade jurídica da Igreja, exigiu respeito e autonomia. O apoio do bispo foi incondicional à lista de pessoas que, ditas “subversivas”, deveriam ser presas: seis sacerdotes, cinco freiras dominicanas, alguns estudantes e professores. Dentre eles estavam Monsenhor Juvenal Arduini, Padre Thomaz Prata, Frei Domingos, Padre Thomaz Fialho, Padre Hyron Fleury Curado, Irmã Loreto, Irmã Georgina de Oliveira, César Vanucci, Joel Loes e outros. Apesar das pressões, continuavam seu trabalho na promoção da cultura. No corpo docente e discente estavam pessoas comprometidas com as causas sociais, atuantes na Ação Popular, no Partido Operário Libertador (POLOP) e na Juventude Universitária Católica – JUC. A JUC era considerada uma das organizações estudantis mais radicais, que exigia as reformas fundamentais na universidade, na saúde, nos serviços públicos e na moradia. Em Uberaba, eram liderados por Monsenhor Juvenal, Padre Prata e Padre Eddie Bernardes, com quem os alunos mantinham, com prazer, debates, “verdadeiros serões, aos sábados à noite, nas dependências da Faculdade de Direito”. Ilda de Almeida Ciriani vivenciou intensamente este período de pressões militares à greve dos bancários e dos sindicatos. Seu marido, José Ciriani, bancário, era aluno de Psicologia de Monsenhor Juvenal Arduini, na Faculdade de Odontologia. Como educador e pastor, Monsenhor presidia celebrações de Páscoa junto aos bancários, anunciando a esperança. Muitas reuniões com alunos e bancários eram feitas, com muita discrição e reserva, na Casa do Rosário, situada no pátio da Igreja São Domingos. A Casa do Rosário foi um espaço de cultura e proteção que os frades dominicanos ofereciam a muitos estudantes e trabalhadores que eram perseguidos pelo regime militar. Reinaugurada recentemente, a Casa do Rosário reabre suas portas, anunciando que é por meio do estudo, da reflexão e da ação que se faz mudanças. Acreditamos que outro Brasil é possível, sejamos construtores da Verdade!