A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santo Tomás de Aquino, FISTA, de Uberaba, foi a única instituição confessional de Ensino Superior no Brasil, criada e administrada pelas Irmãs Dominicanas. São preponderantes os relatos dos ex-professores e ex-alunos em testemunharem o grande diferencial da FISTA: “formávamos educadores, e não apenas professores...” A relação professor-aluno era estabelecida nos princípios de moderação, respeito, abertura às diferenças e reconhecimento das habilidades e talentos de cada um. Sem favoritismos arbitrários, as irmãs dominicanas incentivavam, selecionavam, a partir da monitoria, os alunos que iriam substituí-las em seus cargos de docência, com um aprofundamento na área. Abriam as portas para a profissionalização de qualidade que foi assumida por seus educadores. A faculdade abria espaços para grupos de estudos, criação de jornais (O Coruja) e revistas (Série Estudos), cursos com repercussão nacional pelo Centro de Estudos de Português, teatros e debates polêmicos, como as reformas sociais de base, a universitária e a agrária. O ex-aluno e ex- professor Dr. Eduardo Roberto Junqueira Guimarães, graduado em Letras pela FISTA, com Doutorado pela USP, autor de vários livros no Brasil e exterior, atualmente professor e diretor na Universidade de Campinas – UNICAMP, foi o grande idealizador e coordenador do periódico Série Estudos, em 1972, quando diretor de Departamento da FISTA. A Série Estudos trouxe um salto qualitativo na história da formação docente da FISTA e foi referência para muitas universidades. Uma publicação anual, com 12 volumes (1972 a 1986), com pequenas interrupções, tinha a participação de especialistas de outras universidades brasileiras que divulgaram pesquisas e estudos pertinentes ao estudo crítico da língua. Destacam-se: Francis H. Aubert (USP), Eni Orlandi (USP e UNICAMP), Marta Steinberg (USP), Maria Beatriz Luti e Maria Bernardette de Oliveira (UFRN), Maria Stela Gonçalves (USP), Peter Fry e Eduardo Guimarães (UNICAMP). O eixo norteador do periódico é a construção do conhecimento, do saber, de forma crítica, reflexiva, questionadora, com rigor e cuidado; aliando a linguagem e o discurso às dimensões do “aprender a ser” e “aprender a fazer”: uma formação docente humanista. Dr. Eduardo Guimarães expressa este sentimento de pertença, de memória intelectual da instituiçã “Nossa caminhada foi muito interessante: a gente tinha Vygotsky sem nomeá-lo, tinha a vivência da contradição dialética, sem saber, viver com precisão e aproveitar, aprendemos que a melhor aprendizagem é aquela que te desafia, quando você vai fazer o fácil, você não aprende. Você aprende quando se desestrutura; assim, era Piaget aplicado porque desde a desestruturação para você entrar em equilibração. As Irmãs faziam isto no dia a dia, sem nomear teóricos.”[...] Portanto, pensar, realizar coisas, tomar decisões, descrever, analisar, interpretar... Acho que isso é um traço importante que a FISTA tinha. E qualquer boa instituição tem. E claro que ela tinha de um certo modo afetado por alguma característica particular”.
Esta característica permanece até hoje, na atuação humanista de seus alunos egressos.
(*) Doutoranda da USP em História da Educação