O professor José Fernando Borges Bento, cirurgião plástico, foi diretor da FMTM no período 21.10.1981 a 20.10.1985. Assumiu a instituição aos 37 anos de idade. Homem determinado, pulso firme, consciente e sabedor de como as pedras se movem no tabuleiro da política. Fui diretor clínico do antigo Hospital Escola (HE) no mesmo período em que José Fernando foi diretor da FMTM, cargo este que permitiu que eu acompanhasse de perto sua administração. Quatro fatos importantes ocorreram no seu mandato.
PRIMEIRO FATO: quando assumiu a FMTM, José Fernando era amigo do professor Gladstone Rodrigues da Cunha, então secretário da Educação Superior do MEC. No ano de 1980, a FMTM realizara concurso público para admissão de 214 servidores para o HE.
Os aprovados deveriam ser contratados ainda em 1981, porém o governo iria postergar a contratação para 1982, conforme o professor Gladstone confidenciou verbalmente a José Fernando. Da confidência entre diretor e secretário, surgiu uma estratégia. A postergação da contratação seria, como de fato foi, publicada no Diário Oficial da União (DOU) no dia 31 de dezembro de 1981. Porém, como o DOU, naquela época, via Correios, somente chegaria a Uberaba 3 dias após sua publicação, José Fernando determinou a contratação dos 214 servidores no primeiro dia útil, 2 de janeiro de 1982, pois até então nenhum documento legal impedia a contratação.
Tal procedimento motivou a chefe do DRH da FMTM a exigir que tal procedimento fosse a ela determinado por ofício, pois ela era sabedora das possíveis consequências que poderiam advir. José Fernando, corajosamente, oficiou e determinou a contratação dos 214 concursados. Quando o DOU chegou às mãos do DRH da FMTM, os “servidores do réveillon” já haviam sido empossados nos respectivos cargos.
Esta contratação permitiu a mudança do HE antigo para o recém-construído Hospital, que, justamente por ser maior, necessitava de um número maior de servidores. Dentro da analogia cabível, passamos da idade da pedra para a contemporânea. Com essa contratação, surgiu um problema. O repasse financeiro do governo federal sempre foi feito por duodécimos, ou seja, havia um valor global do orçamento, mas era repassado mês a mês, ao longo dos doze meses.
Assim, com os novos servidores, cada mês gastava não apenas um, mas dois duodécimos, de tal forma que, no mês de junho, o restante da verba de pessoal foi gasta. Passado o mês de julho, os salários de todos os servidores da FMTM não foram pagos, o que foi se arrastando por todo o mês de agosto. O professor José Fernando solicitou ao MEC para que as necessidades financeiras fossem atendidas. Como resposta, recebeu de um assessor do MEC, professor Pedro Fernandes, que posteriormente se tornou diretor da Escola Superior de Agricultura de Mossoró (Esam), hoje Universidade Federal Rural do Semiárido, RN, vários telex “para demitir os 214 servidores”.
Em audiência com o coronel Pasquale, secretário-geral do MEC, o professor José Fernando teve mais uma tentativa fracassada para a liberação financeira desejada. Como cartada final, na audiência com o ministro da Educação, general Ruben Ludwig, expôs a este a situação da FMTM. Como resposta, recebeu do ministro “que demitisse os 214 servidores”. Na réplica, José Fernando respondeu que “então fossem demitidos 215 servidores”, pois ele não demitiria nenhum.
O ministro, então surpreso com a resposta, disse: “você é um homem de coragem e por isto vou enviar o dinheiro necessário”. Certamente, seja naquela época, seja nos momentos de hoje, poucas pessoas neste país seriam capazes de ter a conduta do professor José Fernando, principalmente diante de um general, ministro da Educação durante o governo militar.
Nilson de Camargos Roso
Doutor em Anestesiologia, professor aposentado pela UFTM
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