“A self-made man” traduz-se para “um homem que se fez sozinho” ou “um homem de sucesso construído por si mesmo”. É uma pessoa que alcançou o sucesso através dos seus próprios esforços, em condições adversas, sem dependência de ajuda financeira ou privilégios de família, onde a constância de suas ações foi o trabalho persistente, que é a força do sucesso para qualquer cidadão, cidade ou país. Muitos brasileiros, de origem humilde e sem condições financeiras, em condições adversas, repito, mas com visão de futuro e criados em regime familiar sadio e exemplar, nos dão, com frequência, exemplos de “a self-made man”. Cito abaixo a história de um deles.
Conheci João Venâncio Soares em 1958, quando fazíamos o primeiro ano do então curso ginasial (equivalente ao quinto ano do atual Ensino Fundamental) na Escola Normal Leôncio Ferreira do Amaral, hoje Castelo Branco, no bairro Estados Unidos. Neste mesmo ano, conheci a família e a residência do João. Ele morava a cerca de 1 quilômetro atrás da sede da Fazenda Mário de Almeida Franco, onde seus pais, José e Jerônima, de etnia africana, cultivavam hortaliças. Dificuldades encontradas e superadas pelo João:
1- Morando a 8km da Escola, João se levantava às 5 horas, encontrava calçamento somente a partir da avenida Fernando Costa, atravessava de bicicleta toda a cidade, o que não impediu que nos 4 anos de Ginásio João faltasse apenas três vezes às aulas, devido às chuvas muito fortes que começaram pela madrugada e se estendiam pela manhã;
2- João conseguiu bolsa de estudos nos 3 anos do Colégio Diocesano, cursando o então Científico;
3- Em 1965, foi aprovado no vestibular de Agronomia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), onde tinha hospedagem e alimentação fornecidas pela Universidade;
4- Havendo granjas na Universidade, os granjeiros, servidores federais, o remuneravam nos fins de semana para substituí-los, além de dar aulas particulares de Matemática e de Inglês.
5- Formado no final de 1969, trabalhou na Codevasf (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco). Tendo visão de futuro, mudou-se para Rio Verde, GO, onde também se graduou em Direito. Dando assessoria a muitos produtores rurais, mostrou competência e dedicação, associadas ao bom temperamento, predicados necessários em qualquer profissão. Sendo fluente na língua inglesa, há tempos presta assistência técnica aos mórmons, possuidores de 3.000 hectares de lavoura na região. Várias vezes, foi aos Estados Unidos, como advogado, defender os interesses desses americanos.
6- Seus pais, José e Jerônima, tinham um bom DNA, pois seus outros seis filhos, influenciados pelo trabalho e pelo sucesso do João, também foram vencedores: Sebastião, piloto; Augusto César, engenheiro agrônomo; Célia Marina, professora; Aparecida, Ciências Contábeis; Carlos Henrique, empresário; Ana Palmira, tecnóloga na UFTM.
Ronald Reagan disse: “você não pode ajudar ninguém permanentemente fazendo por eles o que eles poderiam e deveriam fazer por si mesmos”.
7- O Bolsa Família trouxe benefícios, mas trouxe facilidade e exagero. Assim, Bolsa Família, segundo Ronald Reagan, “está fazendo permanentemente pelos brasileiros o que eles poderiam e deveriam fazer por si mesmos”, o que projeta um futuro sem melhoras, devido a uma dependência crônica, dificultando surgir novos “a self-made man”.
O desejo de trabalhar e a força de vontade são as maiores forças do mundo. Se no período de 1950 a 1970 houvesse Bolsa Família, afetando o desejo de trabalhar e de se tornar independente, comprometeria ou não o sucesso da família de João Venâncio?
