Caráter se refere ao conjunto de características, traços e qualidades que definem a personalidade e a conduta de uma pessoa. É o modo como alguém se comporta, pensa e age em diferentes situações, refletindo seus valores, princípios e ética.
O caráter pode ser influenciado por fatores como educação, experiências, cultura e ambiente, sendo fundamental para determinar como as pessoas se relacionam com as outras e tomar decisões.
Após essa abordagem conceitual, citarei alguns exemplos de caráter observados, bastante didáticos.
Recentemente, um bancário me relatou que, para ser um bom cliente do banco, é necessário exigir do mesmo o cumprimento de 3 letras Cs:
cadastro, a fim de que o banco conheça as finanças de seu cliente;
2- capacidade de pagamento;
3- caráter.
É desnecessário dizer que há cidadãos ricos mal pagadores, o que comprova que cumprem apenas os dois primeiros Cs.
Na década de 1960, no lugar do Edifício Manhattan, na rua Tristão de Castro, havia o Hospital Queridinha Bias Fortes, onde foi operada, em condições de urgência, uma senhora, esposa do dono de um pequeno sítio, que pagou apenas os gastos hospitalares e não pagou a equipe cirúrgica, pois não tinha dinheiro suficiente. Alguns meses depois, o sitiante trouxe várias caixas de goiabada caseira para pagar os médicos, que se sentiram remunerados. O valor desse tipo de remuneração foi suficiente, pois viram a gratidão estampada no rosto do sitiante, que não tinha os dois primeiros Cs, mas tinha o mais importante, o último C.
Fernando Gabeira, hoje com 84 anos, foi deputado federal por dois mandatos pelo Partido Verde e um pelo Partido dos Trabalhadores.
Foi ativista no combate ao governo militar através do MR8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) tendo participado do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, em 7 de setembro de 1969.
Em vídeo disse “nós falávamos em combate à ditadura militar, mas queríamos implantar a ditadura do proletariado”. Ao se expor, falando a verdade, Gabeira demonstrou caráter, pois “caráter é quando falamos a verdade mesmo quando não nos beneficia”, fato ainda mais raro no meio político. Gabeira, ao receber a anistia em 1979, disse “recebi a anistia, mas eu não a pedi, pois entrei porque quis”. Mais uma vez demonstrou ter caráter ao não pedir clemência e assumir suas ações.
Há um conceito pouco usual de ética e de caráter. “Ética é aquela condição em que o cidadão age quando todos o observam. Caráter é a maneira pela qual age quando ninguém o observa”. Há, pois, muitos cidadãos que, quando observados, aparentam boa conduta ética, mas agem de modo contrário, camuflados pelo seu mimetismo quando não são observados, evidenciando que na sociedade sempre há pessoas camaleônicas, com aparente boa imagem em suas ações, mas são verdadeiros “sepulcros caiados”. Esses falsos éticos são semelhantes à hepatite sem icterícia que, não manifestando externamente sua doença, dificultando o diagnóstico, é ainda mais grave.
Nilson de Camargos Roso
Doutor em Anestesiologia, professor aposentado pela UFTM
n.roso@me.com
